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Final Veredictum: Code Orange - Underneath


Esta é para mim uma das bandas que mais me tem surpreendido nos últimos anos. 
Descobri os Code Orange quando vieram a Portugal acompanhados pelos Touché Amoré, infelizmente não pude estar no concerto e até hoje arrependo-me por isso.
Se na altura fiquei intrigado pelo peso e agressividade demonstrados em Forever, Underneath cativou-me pela inovação e total re-invenção da banda.
Estes já não são os Code Orange Kids uma banda bastante promissora a emergir de Pitsburgh e a fazer furor no underground são sim os Code Orange e vieram para tomar o mundo de assalto. 


(deeperthanbefore) começa o álbum com um ambiente sinistro repleto de mistério, com uma voz que nos diz "Let's Take a Good Look At You", terminando com um som assustador envolvido em estática que repete o que ouvimos no início da faixa. 
Iremos ouvir estas palavras constantemente ao longo do álbum e ao contrário de Forever existe todo um conceito e uma ideia que são-nos mostrados através da cinematografia dos videoclipes da banda.


Esse aspecto do álbum nota-se logo na segunda música, Swallowing The Rabbit Hole que tem o peso característico a que a banda já nos acostumou mas com breakdowns que o superam. 
Swallowing the Rabbit Hole é o primeiro vislumbre das novidades que a banda nos trouxe.
Apesar de nos apresentarem um som mais refinado, electrónico e sintetizado que em Forever, os Code Orange conseguem manter simultâneamente o peso e agressividade que lhes é característica. 


In Fear mantém inicialmente o peso da anterior e volta a estar revestida em estática e distorção mas com uma notória diminuição no ritmo da música.
Os vocais de Jami mantêm-se guturais e inóspitos, acabando por contrastar na perfeição com a voz de Reba Meyers que aqui surge doce e acutilante, tal como a Poison Ivy.



You and You Alone surge repentinamente e volta a aumentar o ritmo para níveis surpreendentes. 
Neste álbum nunca sabemos o que os Code Orange nos reservam, por isso ao longo de toda a sua audição estamos sempre com as emoções à flor da pele.


Outro dos aspectos que tenho que realçar é a forma como todas as músicas se interligam, havendo uma sucessão lógica através da instrumentalização utilizada e Who I Am é um exemplo disso.
Esta é a primeira música mais calma do álbum e os Code Orange trazem-nos novamente a sua componente mais melódica.


Cold Metal Place traz de novo a distorção e os guturais avassaladores de Jami Morgan.
Alguns efeitos glitch são também aqui utilizados para dar um toque experimental e nisso os créditos vão para Shade o teclista que utiliza efeitos surpreendentes e que trazem uma componente mais imersiva à música.


Sulfur Sorrounding embrenha-nos numa espiral de emoções.
Esta é uma das músicas mais memoráveis de todo o álbum com um refrão cativante e oscilaçõe entre a melodia da voz de Reba e o peso gutural de Jami.
A nível instrumental é dinâmica e com alguns remates de baixo que ajudam a diferenciar-la das restantes músicas do álbum.


O que melhor resultou em The Easy Way é a forma como os Code Orange misturam os efeitos electrónicos de Shade com o instrumental, apesar de achar que é uma música um pouco repetitiva e de no meio da música ter encontrado alguns efeitos dissonantes que não apreciei, não a considero uma má música, apenas foi a que menos gostei do álbum.


Erasure Scan é uma besta completamente diferente, pouco mais de 2 minutos de Hardcore do mais puro, uma faixa que podia perfeitamente fazer parte de Forever ou em I Am King e que remete mais para o que os Code Orange costumavam fazer, ou seja criar músicas para rachar crânios no pit.


Last Ones Left faz-me lembrar um pouco Slipknot nos tempos do Self-Titled ou IOWA, destruição sonora e peso em doses bem recheadas de blast beats, guturais rispidos e riffs de guitarra rápidos e contagiantes, a receita perfeita, pois em equipa vencedora não se mexe e esta música é a concretização do ditado.


Autumn and Carbine fala sobre a decadência das celebridades e como estas se deixam afectar pela opinião do resto das pessoas esquecendo-se delas próprias numa espiral decadente de comprimidos e destruição continua.

O meu destaque vai para esta secção:

"Now you're a pile of pills and a pile of leaves
boss man’s posthumous hit factory
he sleeps in silk sheets while you rest in peace
culture’s black eye like the girls you beat"


Back Inside The Glass é caótica, rápida e mais uma vez abraça a veia hardcore desta banda que apesar de ter bastantes elementos cross-over especialmente neste álbum tem as suas raízes neste género e nesta música então nota-se perfeitamente.



A Sliver é totalmente introspectiva e permite-nos desvendar várias facetas de Reba algo que apenas tinhamos tido alguns vislumbres no álbum aqui vemos todos as suas facetas do mais leve ao mais pesado e faz a ponte com a última música.



Underneath...
O que dizer sobre esta música? Foi o primeiro single revelado pela banda e capturaram-me logo assim que a ouvi a primeira vez.
É contagiante, é melódica, é pesada, tem alguns elementos electrónicos que aqui são uma mais valia, em suma é uma sinopse do que este álbum é.


Este álbum foi uma lufada de ar fresco e é completamente diferente de tudo o que eu já ouvi , não é uma rutura total com o que já fizeram mas é um passo em direção a algo novo e inovador e isso entusiasma-me. 
Forever foi o álbum com o qual conheci os Code Orange aquando da sua visita a Portugal, eram uma banda pesada com fama de ser completamente implacáveis ao vivo e quem presenciou esse infame gig disse-me exactamente o mesmo.
Posso dizer-vos sem sombra de dúvida que até agora é o meu álbum do ano e tal como Forever tinha que fazer parte da minha coleção pessoal.
Underneath é algo diferente, é difícil descrevê-lo com palavras e confesso que esta review foi um desafio pois este álbum é uma experiência, especialmente se considerarmos todos os elemento visuais e técnicos que englobam toda a sua produção conceptual.
Essa experiência não é apenas auditiva e por isso o que eu vos recomendo seriamente é a estarem atentos ao que os Code Orange vão publicando porque eles não querem ser apenas mais uma banda, querem sim marcar a diferença e para mim com este álbum conseguiram, posso dizer-vos que é um dos álbuns mais únicos que ouvi neste ano desastroso e aos Code Orange também.
Supostamente eles iriam apresentar o álbum ao vivo num recinto cheio mas o Covid impediu que tal evento se realizasse e o que é que eles fizeram, enfrentaram este obstáculo e criaram uma oportunidade sendo a banda pioneira dos concertos em streaming em grande escala com uma produção completa e que merece ser contemplada inúmeras vezes, deixo-vos com Last Ones Left: In Fear of the End: