Final Veredictum " Berserker" - Amon Amarth
Um cavalo de oito patas a galopar pelos céus de Midgard? Ou então um
poderoso martelo forjado por anões e que tem que ser manipulado por umas luvas
especiais para ser controlado?
Vamos até ao norte da Europa conhecer o último trabalho dos grandes Amon
Amarth. Formados em Tumba, na Suécia, no ano de 1992, a banda começou com arranjos
de Death Metal Melódico no seu primeiro E.P intitulado de “Thor Arise”,
mas prontamente se distanciaram e fizeram do Viking Metal um subgénero dentro
da música pesada que tem legiões de fãs um pouco por todo o Mundo.
É um bocado impossível para mim não falar de Amon Amarth quando falo de
Heavy Metal, pois esta é uma banda que junta o que gosto de ouvir com a
mitologia nórdica (algo que eu adoro).
Os Suecos liderados por Johan Hegg são conhecidos por utilizarem composições
rápidas nas guitarras e ritmos alucinantes na bateria. Conquistaram o mundo com
álbuns como “Twilight of the Thunder God”, “Fate of Norns”, ou “With
Oden on our side”.
Hoje trago-vos o último trabalho da banda,"Berserker"! Lançado em
2019 pelas mãos da editora Metal Blade Records, este era o álbum há muito
aguardado pelos fãs. O álbum é composto por 12 temas e neles podemos ver o
som pesado da banda combinado com as letras relacionadas com mitologia nórdica
e ainda um pouco do quotidiano deste povo do norte. Porquê o nome Berserker? Os Berserkers, no teatro de guerra,
eram guerreiros caracterizados por usarem crânios de urso ou lobo com a pele
dos animais. Há ainda quem os considere guerreiros tementes a Odin, o pai do
panteão nórdico.
Começo esta review com o primeiro tema, intitulado de “Fafner's Gold”. Fafner, na mitologia
nórdica era um anão que foi transformado num dragão e que guardava um enorme
tesouro. A música começa com um som acústico, que se converte num som de
guitarras distorcidas e bateria à medida que o tempo vai avançando. O tema
avança com algumas variações de velocidade e intensidade. No entanto, uma parte
que me chama a atenção neste tema é o facto de Johan Hegg cantar o refrão em “clean” como se estivesse a
declamar um poema... O refrão de “Fafner's Gold” fica aqui para
vocês lerem:
In search of Fafner's Gold,
a dragon's tale.
He'll run his sword,
through his scales.
Fafner's Gold
a dragon's tale
Treachery unfolds
Deceit unveiled.
De seguida passamos a “Crack the Sky”. O segundo tema do álbum
já tem uma introdução mais heavy com riffs pesados. “Crack
the Sky” é o primeiro tema cuja letra fala na íntegra sobre Thor. Aliás,
eu diria mesmo que este álbum revela um pouco a devoção dos Amon Amarth pelo
Deus do Trovão. Foi também o segundo tema do álbum que foi gravado em vídeo a
par de “Mjolner, Hammer of Thor”, “Raven's Flight” e ainda “Shield Wall”. Tal como outros
temas da banda, este tem um refrão fácil de decorar e que fica no ouvido...
Thor!
Let your hammer fly
Let the lightning crack the blackened skies.
“Mjolner, Hammer of Thor” é o terceiro tema deste álbum e
começa com o som de um objecto de metal a ser forjado. O Mjolnir é um dos
amuletos mais poderosos na mitologia nórdica e nas crenças de todos aqueles que
são devotos aos deuses nórdicos - os próprios elementos da banda usam o martelo
ao pescoço. É um tema bastante forte com alguns riffs e ainda
uma bateria apressada e coesa. A par com “Skoll and Hati”, é
um dos meus temas favoritos. Tal como o tema anterior, “Crack the Sky”,
temos um vídeo-clip que parece seguir uma história. Mas já lá vamos. Deixo-vos
aqui o refrão do tema que fala sobre o amuleto de Thor...
Treasures will be forged, for the Asagods
A spear and ring for the Asgard King
But finest of them all, The Crusher it is called,
Mjolner, Hammer of Thor.
Passamos ao quarto tema do álbum que se chama “Shield Wall”.
Este é um tema que demonstra bem o quotidiano viking e a sua crença de que
seriam mais adorados pelos seus deuses se batalhassem. É um tema que foi
gravado em vídeo, contudo longe da história dos outros três que mencionei. Este
tema leva-nos à vertente original e à base da banda que é o Death Metal
Melódico. É fácil ouvir um double pedal na bateria e
o riff da guitarra quase que nos remonta para
uma batalha - daí também o nome da música! No vídeo-clip é possível ver uma
invasão a uma praia, um ataque de uma tribo inimiga e ainda a preparação de um
povo para a guerra.
WAR
Here to conquer! Battle Ready! No retreat!
WAR
Here to conquer! Battle Ready! No retreat!
Vikings!
Raise the shield wall!
Hold the front line!
Fight til deaths!
Quase a atingir as seis primeiras músicas, falo-vos agora de “Valkyria”, o
quinto tema do álbum, que parece levar-nos directamente para o
campo de batalha. Tal como “Shield Wall”, este é um tema que aborda a
guerra. Os vikings acreditavam que não havia honra maior do que morrer no campo
de batalha e as Valquírias eram guerreiras de Odin que galopavam sobre os
campos de batalha para recolher os corpos dos guerreiros que padeciam. É um
tema muito semelhante a “Shield Wall” no que toca à
composição, contudo no final do tema é possível ouvir um piano que torna
inovador e experimental este "Berserker". Não vos deixo o
refrão, pois este tema tem uma letra corrida, a qual não usa refrão, contudo
deixo-vos o vídeo para ouvirem e apreciarem.
Continuamos a review com
o primeiro tema que a banda lançou ao mundo de modo a apresentar
"Berserker", “Raven's Flight”. E que dizer sobre este
tema? Riffs pesados, breakdowns, blast beats e um
gutural épico de Johan Hegg. Tal como tinha dito anteriormente, este tema,
junto com “Crack the Sky” e “Mjolner, Hammer of Thor” formam
uma história e para a percebermos temos que ver os três vídeos com muita
atenção.
A história que a banda
passa é a de um Berserker que sai do campo de batalha directamente para um
lugar onde os Amon Amarth vão dar um concerto. Antes da música
começar há uma introdução que diz: "History tells us of a class of
warrior that struck fear into the hearts of all who heard tales of their wrath.
These beast men, these berserkers, feared neither pain nor death, for Valhalla
awaited them. And then, one day, they disappeared...Or did they...". Durante
os três vídeos vemos o concerto da banda e ainda as batalhas que este Berserker
enfrentou.
O que posso destacar
deste tema é o facto do refrão ter mensagens subentendidas como a união, a
camaradagem, a bravura e o espírito de equipa. É sem dúvida um dos temas mais
fortes deste álbum.
We hold our heads up to the sky
And know that we will never die
As long as we stand side by side
As long as we can see the ravens fly!
Ravens fly! Ravens fly!
Entramos na segunda
metade do álbum com um tema que vai agradar e muito aos fãs da famosa série
"Vikings" e porquê? O sétimo tema é sobre o filho do lendário Ragnar
Lothbrock! “Ironside” é o nome do tema e fala sobre Bjorn, o
punho de ferro ou braço de ferro, conforme... É um tema com uma introdução
calma que transita para uma tremenda ascensão da guitarra com um blast
beat acelerado e um breakdown quando chega a parte do
refrão. Durante o instrumental que transita entre a primeira e a segunda metade
do tema, é possível ouvir que a percussão para, a guitarra desacelera e Johan
Hegg tem mais uma vez um registo de "clean vocal" muito
agradável. A letra é toda ela direccionada para aquela velha questão da
sucessão e ainda o facto de herdarmos um império ou alguma coisa que tenha
tornado os nossos antecessores famosos. Mais uma vez os Amon Amarth a falarem
um pouco do quotidiano nórdico com a lenda deste Rei que governou as terras de
Svitjod, que viria a transformar-se na actual Suécia.
Para aqueles que lêem
esta "review", fica aqui uma parte da letra que fala na necessidade
de tornarmos ainda melhor o trabalho que nos foi passado pelos nossos
antecessores:
Born the son of a legend
What will be my fate
Will his shadows always loom above
Or will my name prevail
“Berserker at Stamford Bridge”. O oitavo tema traz-nos mais uma vez a
guerra. Todos nós conhecemos as infames Histórias de invasões e pilhagens dos vikings.
Um povo sereno dentro de portas, mas terrível no que toca à conquista de novos
territórios. Este tema é exactamente isso e conta o episódio da Batalha de
Stamford Bridge. Não me refiro ao estádio do Chelsea, mas sim a uma pequena
vila em Inglaterra que fica situada no condado de Yorkshire. Esta pequena vila
foi palco de uma batalha que opôs um exército Anglo-Saxónico a um exército
Norueguês liderado por Harold Manto cinzento. A letra fala exactamente sobre
esta batalha e ainda a lenda de um guerreiro Berserker que sozinho travou uma
falange Inglesa e matou cerca de 40 homens. A nível musical este é talvez o
tema mais calmo do álbum. Com os instrumentos a tocarem com menos intensidade,
podemos ouvir um gutural mais intenso de Johan Hegg que parece estar a contar a
narrativa da própria batalha. Deixo-vos com o vídeo que tem a letra desta
música para que possam ouvir e conhecer aquela que ficou como uma das grandes
derrotas dos vikings em "Terras de Sua Majestade."
Já vimos dois terços do
álbum, faltam apenas quatro temas para concluir esta review. O nono tema
chama-se “When Once Again We Can Set Our Sails”. Embora não seja um
dos meus temas favoritos, tenho que admitir que ao ouvir, recordo-me da terra
do meu pai, que é um cantinho em Trás-os-Montes. Os vikings eram um povo que
vivia essencialmente da pesca e da agricultura como subsistência. Devido aos
Invernos tenebrosos na península da Escandinávia, este povo foi obrigado a
procurar novas terras a oeste do seu lar. E esta música fala exactamente sobre
isso, ou seja, a necessidade que este povo tinha em lançar-se ao mar de modo a
procurar a sua subsistência. Este tema fala sem dúvida sobre o quotidiano dos
povos do norte e ainda na esperança de sobreviverem ao Inverno.
E porque é que eu falo
na terra do meu pai? Porque este tema tem a mensagem subentendida de haver a
vontade de voltar a um sítio e a um lugar onde somos felizes. De realçar também
que “When Once Again We Can Set Our Sails” me faz lembrar um
pouco temas de Amon Amarth como “Pursuit of Vikings” do álbum
"Fate of Norns" de 2004 ou ainda em certa parte “Runestone
to My Memorie” do álbum "With Oden on our Side" de
2006.
“Skoll and Hati” é o tema que se
segue. Voltamos à mitologia nórdica com este tema bem pesado. A nível pessoal
confesso que este é o meu tema favorito. Uma composição fortíssima a nível
musical e um ritmo estonteante. Neste tema é abordado o Ragnarok,
que é o fim do mundo para os vikings. Conta o Episódio, que Skoll e Hati são
irmãos descendentes de Fenrir, o lobo gigante filho de Loki.
No Ragnarok estes dois lobos irão perseguir o sol e a lua até
que os nove mundos da árvore da vida Yggdrasil padeçam e surja
a nova ordem. A letra é toda ela ligada a este episódio e tal como outros temas
neste álbum, o refrão fica no ouvido e conquista qualquer um. A mim em
particular diz-me muito, pois tenho nas crenças nórdicas uma orientação para a
vida e posso admitir que fico comovido com esta música. Deixo-vos com o
refrão...
See the massive grey-backs runs
See them chase across the sky
In pursuit of moon and sun
Until the nine worlds all shall die.
Com apenas dois temas
para concluir o álbum, voltamos às histórias das famosas conquistas nórdicas.
Tal como no tema “When Once Again We Can Set Our Sails”, “Wings
of Eagles”, o tema que vos falo agora é virado para o mar e para as
conquistas. Os vikings são um povo que começa a ganhar fama na Europa Medieval
devido às pilhagens e ataques a outros povos. No entanto, e quando se vive numa
terra onde o Inverno dura quase nove meses, é impossível não pensar fora de
portas. E é isso que ouvimos em “Wings of Eagles”, ou seja, a
necessidade da expansão. Neste tema começamos por ouvir uma bateria estonteante
que se converte num blast beat rapidíssimo que varia até ao
refrão sendo que o baixo e as guitarras não lhe ficam atrás. Mais uma vez temos
uma letra que fica no ouvido e um refrão que fala na liberdade e na esperança
de uma nova terra, onde possamos encontrar o nosso propósito de vida. Para quem
gosta de História e tem curiosidade na resposta àquela antiga pergunta sobre
quem é que descobriu a América, fica uma pista...
We soared upon the wings of eagles
We flew across the open waves
Our hearts yearned for taste of freedom
To Vinland's shores we did set sail
Sailing west we found our new land
We tried to build a better life
But we had to go back to Old Greenland
After years of hard work and futile strife.
Chegamos ao fim das doze
músicas com aquele que considero o tema mais intenso, mais escuro e mais
pessoal, “Into the Dark”.
Com este tema, ouvimos o som experimental de "Berserker" no seu esplendor. É perfeitamente audível um piano e um violoncelo. Quanto aos instrumentos da banda, é audível um som mais profundo em que o baixo toma o papel principal.
Este é um tema que eu
considero uma mensagem de alerta para todos nós. A letra é toda ela virada para
a mente e fala-nos no perigo das doenças e distúrbios mentais. “Into
the Dark” é como se fosse um grito de alerta para todos aqueles que se
fecham e não comunicam com ninguém o que sentem ou o que estão a passar, e
quando nos apercebemos da gravidade das coisas pode ser tarde de mais. Em vez
de vos deixar um refrão, deixo o vídeo com a letra para reflectir naquilo que é
o perigo da mente.
Após escutar este álbum, tenho a concluir que este é o melhor da banda desde 2008, ano em que foi lançado "Twilight of the Thunder God". Muitos dirão que Amon Amarth fazem sempre do mesmo e pouco ou nada acrescentam ao seu trabalho. Discordo, pois acho que "Berserker" é um álbum em que as novas experiências funcionam bem e dão um ar inovador à banda. É um álbum que foi preparado com alguma expectativa, depois da crise sentida antes do lançamento de "Jomsviking" em que os suecos tiveram uma disputa legal com o antigo baterista que saiu em 2015. "Jomsviking", o antecessor de "Berserker", já era um álbum onde se notavam algumas diferenças no som da banda que se intensificaram com o novo trabalho. Após "Twilight of the Thunder God", foram lançados pelos suecos "Surtur Rising" em 2011, "Deceiver of the Gods" em 2013 e "Jomsviking" em 2016. De salientar que antes de "Berserker" foram lançados bons álbuns, mas na minha opinião, e com tudo o que foi descrito, este acaba por levar a melhor sobre os anteriores...