o blog mais pesado

Final Veredictum: More Than A Thousand - Vol.5 Lost At Home


Os More Than A Thousand foram formados em 2001, por Vasco Ramos (vocalista) e Filipe Oliveira e Sérgio Sousa (guitarristas), após várias mudanças de membros ao longo dos anos em Vol.5 a banda integrava também Mike Ghost (baixista) e Wilson Silva (baterista).
A banda setubalense conta com uma discografia composta pelos álbuns "Vol. I Trailers Are Always More Exciting Than Movies" "Vol II The Hollow", "Vol. IV Make Friends And Enemies" e "Vol. 5 Lost At Home", os EP's "Too Many Teen Massacre Horror Movies" "Those In Glass Houses Shouldn't Throw Stones", "Two Songs... An Endless Body Count" e "Vol. III MAR" , bem como um CD de compilação que funciona como um álbum de despedida e que é composto por 19 músicas, intititulado, "This Is Who We Are", editado pela revista BLITZ e distribuído juntamente com o  nº 119 de Maio de 2016.
Durante os seus 15 anos de carreira os More Than A Thousand estabeleceram-se como a maior banda de metalcore que Portugal já teve, tocaram de Norte a Sul do país e arriscaram tudo perseguindo uma carreira internacional invejável, graças à sua mudança para Londres em 2005, o que lhes permitiu percorrerem toda a Europa com digressões repletas de datas em todos as salas e festivais que os recebessem, muitas vezes com apenas uma ou duas folgas durante um mês inteiro em digressão.
Mas como tudo o que é bom um dia tem um fim, infelizmente esse fim chegou no dia 16 de Dezembro de 2016, a data do último concerto da sua Farewell Tour que teve lugar no estúdio Time Out em Lisboa e onde os More Than A Thousand se despediram dos fãs acompanhados pelos seus amigos Setubalenses Ash Is A Robot e Hills Have Eyes.


Feitas as apresentações passemos à música, o álbum nem pede com licença, a primeira música, Heist entra logo a abrir com guitarras munidas de riffs velozes e breakdowns, bem como com uma bateria implacável com Wilson Silva e o seu double pedal fortíssimo. 
O refrão é catchy e melódico e esta música acabou por tornar-se um dos maiores êxitos da banda, à semelhança de No Bad Blood que integra o álbum anterior
Líricamente fala sobre a imensa dor que sentimos ao perder alguém, esquecendo quem somos, e sentindo que uma parte de nós desapareceu sem sabermos o porquê ou para onde foi, como se de um assalto se tratasse.


Lost At Home, a faixa titulo do álbum fala sobre como a banda se sentia após chegar a casa depois de terminadas as digressões, esse significado fica bastante claro no segundo verso da música:

"Is this the place you call home?
Have I been sleeping all this long?
My blood runs cold, my heart is gone
Get me out of your casket
I know exactly what you are
No emotion, explosion, you're death
For once in my life let me live"

Nesta música o meu destaque vai mesmo para a letra que tem um duplo sentido e metáforas acutilantes que exemplificam o forte significado que os More Than A Thousand querem transmitir.
Quanto à secção ritmica segue um pouco a mesma linha da anterior, os músicos não param um segundo e o contraste entre os guturais e os cleans resultam de forma bastante dinâmica, tal como os breakdowns que adicionam outro impacto à música.


Fight Your Demons fala sobre as vozes dos demónios interiores que ouvimos na nossa cabeça a dizerem-nos para desistirmos, as insónias constantes que nos acompanham diariamente e a forma como os temos de combater mantendo-nos fiéis a nós mesmos e às nossas convicções.
Esta música mostra na perfeição que é possível ter guturais pesadissimos combinados com cleans melódicos e uma secção Instrumental rápida e com bastantes oscilações e breakdowns brutais
A minha parte favorita é a última estrofe que termina com um breakdown.

"I can't fall asleep
My life is upside down
Every day is exactly the same
Everyone tells me I've got nothing to give
Well, fuck that!
I'm giving everything I've got
I'm giving everything I've got
Fuck you
You can't take this from me
I'm not sinking down"


"Never a failure, always a lesson
Somehow you always knew the right thing to say
Where were you when I was lost? You let go too fast
I kept following the sound till the point of no return"

Posso dizer com toda a certeza que I Am The Anchor é a minha música favorita deste álbum, até porque foi nela que me inspirei para uma das minhas tatuagens.
Esta é também uma das músicas onde a banda mais utiliza clean vocals e onde realmente percebemos o talento de Vasco Ramos enquanto vocalista e a versatilidade que a banda demonstra ao apresentar-nos tanto músicas pesadas como músicas mais calmas como esta, mas sempre com um grande impacto.
Destaque também para as bass lines de Mike Ghost, que também já passou por bandas como Devil In Me ou Correia e o factor experiência nota-se bem.
Não posso deixar de realçar os belíssimos últimos momentos da música que culminam com o refrão a ser cantado uma última vez acompanhado de guitarra acústica. 


Feed The Caskets mostra um lado mais experimental de uns More Than A Thousand que não têm medo de arriscar ao utilizarem dubstep numa música de Metalcore e como vocês já me conhecem a minha resposta é sempre a mesma se a electrónica for bem utilizada pode resultar bastante bem e neste caso a verdade é que dá um hype brutal à música e especialmente ao vivo é daquelas que faz-nos querer moshar com tudo o que temos...


Assim que começamos a ouvir esta Dear Friend sabemos que os More Than A Thousand vêm com intenções de derramar peso, mas o mais surpreendente é que mesmo sendo uma música bastante pesada consegue combinar simultâneamente elementos melódicos e carregar uma conotação bastante emotiva ao reflectir sobre as verdadeiras amizades.

"Fuck the world
There's not a day that I don't think of you
You'll be waiting at the gates of hell
You've always understood the meaning of love and devotion
You never failed me
You're buried in me
I wish I had the time to say goodbye
You had the spotlight in you
You never failed me
You're a symbol, a brother, my friend
Bonded together in this life and the next
Your vision, your light will remain in me
True friends don't come and go

You and me against the world
We're bound for glory
We are the ones who fall but we get back up
We are the ones who fight and we'll never lose hope
We rise, we fall
We're bound for glory
We are the ones who fall but we get back up
We are the ones who fight and we'll never lose hope"



Song Of Death é uma música repleta de breakdowns que nos fazem querer fazer headbang e de riffs rápidos com alguma distorção pelas guitarras de Filipe Oliveira e de Sérgio Sousa.
A bateria de Wilson Silva não pára um único segundo, ouvimos os blastbeats rápidos e os seus pratos  Zildjian a ressoarem com um power tremendo.



Never Let Go mantém o ritmo acelerado e é mais uma banger dos setubalenses.
O que os More Than A Thousand têm de extraordinário nas suas composições é a forma como não há uma única palavra que seja dita em vão ou seja imperceptivel quer seja cantada ou expurgada com guturais e essa foi a receita perfeita para  que as suas letras se tornem facilmente reconhecidas e adoradas pelo público e esta música é mais um exemplo disso.


Swallow Your Poison fala sobre relações tóxicas em que damos tudo de nós mas não é recíproco, nem sequer valorizado, pois a pessoa que temos ao nosso lado não nos apoia, parece ter um coração de gelo e cada palavra que diz é para nos deitar abaixo, pessoas venenosas das quais a única coisa que merecem de nós é distância.
O refrão é mais uma vez catchy contrastando com as restantes partes que utilizam guitarras dinâmicas e uma bateria bastante ritmada e onde são utilizados growls.

"Bite your tongue, swallow your poison
You had my voice under arrest
You love when you hate it
Nothing will save you
What I gave you threw away

What I gave you threw it all away
I gave you all, fucking whore!"


Cross My Heart é outra das músicas deste álbum que se tornou num êxito junto dos fãs.
As dinâmicas ritmicas utilizadas, a letra carregada de emoção e os breakdowns inesperados fazem com que fique no ouvido e se tenha tornado uma referência na carreira dos More Than A Thousand.
Além de tudo isto é daquelas que convida ao sing along e faz todos quererem cantar a plenos pulmões.


No Mercy For The Weak conta com a participação especial de Robert Ljung, vocalista dos Adept.
Ljung tens uns tremendos fry screams que contrastam bastante com os low growls de Vasco Ramos mas que trazem bastante diversidade à música dos More Than A Thousand.


Após um interlúdio para nos prepararmos para o que aí vem Room Of Blades vem para deitar o resto da casa abaixo, nesta música a banda toda vem com tudo o que tem para fechar o álbum em grande.
O meu momento favorito desta música vem após a bridge onde Vasco Ramos nos mostra alguns dos melhores cleans de todo o álbum.


Better turn yourself into a wolf
Say what you want, we'll never fall
Your scars won't heal
In a hail of bullets
Where we live, where the nights grow cold
But you don't care at all
It's hell until I say it's over
It's gonna be hell until I say it's over


Os More Than A Thousand podem ter terminado em 2016 mas o seu legado será eterno. 
Fizeram um percurso incrível e alcançaram sucesso através da sua dedicação, perseverança e trabalho árduo, provaram que é possível viver da música pesada mesmo sendo uma banda portuguesa.
Conquistaram os seus sonhos e agora que a banda chegou ao fim cada um dos seus membros seguiu o seu caminho.
Vasco Ramos enveredou por um percurso a solo sob o nome XANDE, já editou o EP "This Is Who We Are e o álbum "Maybe Different Is Not So Bad", do qual destaco músicas como Highs and Lows, No Man ou Psycho
Tal como os More Than A Thousand anteriormente, Xande abriu o concerto para os 30 Seconds To Mars, na sua passagem por Portugal. Continua também o seu trabalho como produtor na sua Poison Apple Studios e com a sua marca de roupa Frightmare.
Mike Ghost iniciou um projecto também a solo com um estilo mais alternativo sob o nome Fantasma, editanto também em formato digital o EP "Perpétua", do qual os meus destaques vão para as músicas, Morder Para Sangrar, que conta com a participação de Brent Hinds dos Mastodon e Valha-me Deus que conta com a participação de Maze, membro do grupo de rap nacional Dealema, bem como duas covers bem distintas das músicas Devo Ódio ao Mundo dos Trinta e Um e da música Censurados da banda homónima que é um marco na cena Punk nacional.
Wilson Silva continua a ser um baterista exímio e foi tocar na Vans Warped Tour JP em 2018, é também o CEO do estúdio WRecords.
Filipe Oliveira e Sérgio Sousa na entrevista que li na Blitz com um artigo dedicado a More Than A Thousand afirmavam que o seu percurso futuro iria também passar pela produção de bandas.
Com sonoridades diferentes do que estávamos habituados, todos continuam ligados à música e isso é o mais importante, se vamos ou não ter uma reunião de More Than A Thousand no futuro, neste momento é algo incerto, mas podemos ter a certeza que vamos continuar a ouvir música destes senhores que continuam a querer quebrar barreiras e a desbravar novos caminhos na música nacional.