Final Veredictum Draconian - Under a Godless Veil
Para muitos, incluindo eu, 2020 está a ser um ano para esquecer. A pandemia do
Covid-19 tirou-nos concertos, festivais, etc… No entanto, nem tudo está perdido
já que os concertos aos poucos estão a voltar e a nível de lançamentos 2020 tem
sido um ano de alguns álbuns ou "comebacks" importantes. Hoje vamos
falar de um em concreto: "Under a Godless Veil", o último álbum da
banda sueca de Doom Atmosférico, Draconian.
Quero informar os leitores de que o Doom sempre foi um género de Heavy
Metal que nunca me disse assim muito, tirando a grande referência de Peter
Steele e Type O-Negative. Mas, entretanto, este subgénero é um dos que me tem
acompanhado durante este período enfadonho que estamos a viver...
Posto isto, vamos ao que interessa que é a Review! Draconian é uma banda
que já anda nestas paragens há uns anos e é sem dúvida uma das grandes
referências do género. Formados na cidade sueca de Saffle em 1994, a banda
tinha originalmente o nome de "Kerberus". O fundador da banda Johan
Ericson, criou uma banda onde o Death Metal Melódico e o Black Metal se juntavam
num só. Passados sete meses a banda mudou o nome para Draconian. como a
conhecemos hoje. e adotou um tom mais gótico onde o Doom Atmosférico e o Death
Metal continuam a ser a sua grande influência.
Atualmente a banda é composta por cinco elementos: Anders Jacobsson
(Guturais) e Heike Langhans (Clean Vocals), Daniel Arvidsson e Johan Ercisson
nas guitarras e ainda Jerry Tortensson na bateria. Para as gravações do baixo
no último álbum a banda contou com a presença de Daniel Anghede, membro entre
2015 e 2019.
"Under a Godless Veil" é o 7º álbum de originais dos Suecos e é
composto por 10 faixas em que podemos ver todo o esplendor do som mais profundo
da banda onde os guturais e os vocais limpos se misturam numa harmonia
perfeita.
Depois da breve descrição da banda e do álbum vamos às músicas.
O primeiro tema chama-se "Sorrow Of Sophia". É um tema muito
pesado já que o próprio nome fala no arrependimento. O arrependimento de não
ter feito algo ou ter feito algo que criou um peso na nossa consciência e com o
qual temos de lidar o resto dos nossos dias. Algo que nos impossibilita de
fazer o que nós queremos e cujo peso é também deixado por todos à nossa volta
que não querem que avancemos e façamos mais e melhor. É um tema de oito minutos
com riffs intensos e onde se consegue ouvir um som de cordas que vai
acompanhando a voz feminina que dá um tom de esperança no meio da escuridão e
do tom depressivo da letra.
O segundo tema do álbum chama-se "The Sacrificial Flame" e parece
seguir a ordem de "Sorrow Of Sophia". Embora tenha uma mensagem
diferente, este tema parece alertar para os falsos pregadores da vida e como as
toxicidades nos podem deixar de rastos. É um tema que parece ser uma
"wake-up call" para os perigos da mente e alerta-nos para o perigo
dos nossos próprios demónios. Desta feita falamos de mais um tema em que
ouvimos uma introdução de teclas que se vai notando por toda a música. As
transições entre as partes "Clean Vocals" e "Harsh Vocals"
tornam a mensagem da música mais intensa, já que parece que é o nosso eu a
pedir ajuda, fazendo-se ouvir.
O terceiro tema que contempla um terceiro "Lyric Video" para "Under a Godless Veil", chama-se "Lustrous Heart" e ao contrário dos primeiros dois temas, neste temos uma introdução mais solta com um riff mais melódico. Heike e Anders trocam os papéis e desta feita temos um tema que fala da adoração a um falso Deus e como a ascensão pode ser um perigo caso não tenhamos uma base ou um alicerce que nos faça manter no topo de alguma coisa. A própria letra tem metáforas subentendidas que falam sobre isso mesmo. Deixo-vos aqui um exemplo:
"Unknown god, head down low, falling snow
Unknown god, head down low into the fallen snow
You're not untouchable, Byzantine hero
Reach out and break the cosmic window"
Quase a atingir a
primeira metade de "Under a Godless Veil", vamos ao quarto tema que
se chama "Sleepwalkers". Temos oficialmente um videoclip para este
tema. Este mostra realmente o poderio dos Draconian naquilo que podemos ver do
género Death/Doom Atmosférico, com uma composição em que temos uma melancolia
nos instrumentos que acompanha os "Clean Vocals" de Heike Langhans e
ainda as vozes que se cruzam no refrão fazendo uma espécie de Bela e o Monstro.
"Sleepwalkers" entra no círculo do "Eu" e mais uma vez fala
na luta contra os nossos próprios demónios e as nossas lutas para nos mantermos
vivos e respeitando os nossos "Esqueletos do Armário". O vídeo clip
mostra alguém que vive acorrentado e que se tenta libertar, mas quanto mais se
esforça, mais acaba por mergulhar no vazio e encontra o abraço da morte.
Chegámos a meio do
álbum. "Moon Over Sabaoth" é o tema que se segue e voltamos aos
"Lyric Videos". Este é de todos os temas aquele que tem um início
mais sinistro. Começa de modo suave mas com um som profundo, e depois os
instrumentos entram em ação criando a sensação de um murro no estômago. Mais
uma vez os vocalistas trocam os papéis e Anders Jacobsson assume o papel
principal liderando toda a composição e Heike Langhans assume os "Back
Vocals" com uma maestria perfeita. Podemos ver e ouvir o gótico em ação!
No entanto, em certas partes vemos a música a acelerar para um
"dropdown" vertiginoso que desacelera e nos atira para o vazio outra
vez. Embora seja um "Lyric Video", aconselho-vos a ouvir para
perceberem ao que me refiro.
Bem, já vimos a primeira
metade do álbum e vamos agora arrancar para a segunda metade. O sexto tema
chama-se "Burial Fields". Este é um tema que apenas se ouve a voz de
Heike Langhans e em que Anders Jacobsson declama a última parte da música como
um poema se tratasse! O registo vocal desta senhora é qualquer coisa de
extraordinário. Se fecharem os olhos ao ouvirem este álbum vão reparar que por
momentos parece que as músicas são cantadas por Aleah Stanbridge que
infelizmente desapareceu no ano de 2016. "Burial Fields" é um tema
que fala na perda. No sentimento de perder alguém que nos é próximo. Embora
tenha um andamento mais calmo, não deixa de ser um tema intenso e pesado que
não deixa ninguém ficar indiferente. Proponho que ouçam este tema com atenção e
atentem no efeito devastador da sua letra.
"Sethian" é o
sétimo tema e a banda aqui utiliza uma introdução mais clássica que se mistura
com as guitarras e bateria assim que existe a introdução ao registo vocal. Com
um andamento mais ríspido no refrão em que nitidamente se apercebe o estilo
Death Metal, a música fala de um culto que tem por base as crenças gnósticas.
As crenças gnósticas eram várias formas de adoração que a humanidade utilizava
nos séculos I e II D.C.. "Sethian" de acordo com as crenças gnósticas
era uma espécie de adoração ao Deus Egípcio do Submundo, Seth. A própria letra
fala na adoração a um deus que se alimenta do infortúnio e lança as mentiras
para obter a adoração.
Faltando apenas duas
músicas para concluir o álbum, vou agora falar de "Night Visitor", o
nono tema de “Under a Godless Veil”. Esta é uma música totalmente cantada por
Heike Langhans. Este tema para mim é um tema com o qual me identifico
profundamente... falamos de uma música que fala de como muitas vezes tentamos
proteger aqueles de quem mais gostamos das coisas que passamos ou sofremos. A
nível musical estamos a falar de um tema profundo e pesado que tem um tom
arrastado e melancólico que acaba por dar mais sentido à letra. Deixo-vos aqui
uma pequena parte do refrão para que possam constatar:
"And there is no victory
There is no loss
The ones that I love are safe
From the horrors I keep
And there is no victory
There is no loss"
"Ascend Into Darkness" é o tema que conclui “Under A Godless Veil”! É um tema com quase nove minutos e é uma despedida em cheio para um álbum que me surpreendeu. Em "Ascend Into Darkness" como em outros temas deste álbum e ainda de outros da discografia dos suecos podemos ver o lado mais negro e mais tenebroso da banda! É um tema que tem riffs e uma mensagem que fica no ouvido. Mais uma vez é um tema que fala para não cairmos no esquecimento e ainda o facto de pedirmos perdão por não correspondermos às expectativas!
Draconian é uma banda
que anda nestas andanças há já algum tempo! Nota-se uma grande evolução na
composição da música destes suecos. Este álbum para mim foi um bocado
complicado de rever visto que a nível pessoal me diz muito, deixa-me a pensar e
a nível musical é algo que ouço quando quero inspirar-me para algo. “Under A
Godless Veil” fala de vários cultos "gnósticos", mais uma vez informo
que são as crenças desenvolvidas à parte do Cristianismo nos Séculos I e II
D.C. Podemos ver em alguns temas a adoração a Sofia ou Sophia que para os
"gnósticos" era a versão feminina de Jesus. Este álbum é sem dúvida
um dos melhores do ano. Para quem gosta deste género vai encontrar imensas
parecenças com Trees Of Eternity, a banda de Aleah Stanbridge, cantora que
desapareceu demasiado cedo deixando um futuro brilhante pela frente. Este
sétimo trabalho da banda vem consolidá-los como uma das melhores bandas de
Death / Doom Atmosférico que existem na atualidade.