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Final Veredictum: GAEREA - "Limbo"



O desconhecido. O que é? Algo que nos pode afastar ou atrair. A nós atraiu-nos e de que maneira! Preparem-se, pois hoje vamos andar no "Limbo".

Para quem diz que o ano de 2020 foi mau… até podem estar certos, mas para estes senhores da Cidade Invicta este ano que agora termina foi no mínimo revelador. Lançaram um dos melhores, se não mesmo o melhor álbum do ano em Portugal. Gaerea aparece na “cena” Metal portuguesa em 2016. Com dois álbuns na bagagem, o último lançado pela Editora Season of Mist está a dar que falar pelos melhores motivos. Com apenas seis temas, “Limbo” leva-nos às profundezas do Black Metal e deixa-nos a suplicar por mais!

Ninguém sabe quem eles são! Apenas se sabe que são cinco elementos mascarados e com uma certeza - a de se tornarem a melhor banda de Black Metal do Mundo!



Os portistas abrem as "hostilidades" com "To Ain". Começamos bem! Bem demais até. Nota-se perfeitamente as influências de Behemoth neste tema, já que a introdução de "To Ain" é semelhante à de "Blow Your Trumpets Gabriel". Ao longo do vídeo vamos vendo alguém a contorcer-se enquanto fala nos seus medos e como estes lhe toldaram a visão e os pensamentos. Quando escutamos "To Ain" parece que somos atirados para uma espiral depressiva e é exatamente isso que acontece durante os 11 minutos deste tema. Ouvimos um som deprimente e angustiante, no entanto, enquanto a música transita para a segunda parte temos um solo que nos deixa tristes, pois ficamos meio combalidos. Contudo, o poder instrumental na segunda parte da música faz com que com os nossos males se desvaneçam e ganhemos força para tomar o mundo de assalto.  





Em "Null" a história é outra! Deixamos a depressão para entrarmos no Reino de Deus. Ao escutarmos esta letra parece que vemos as histórias do Êxodo Judaico e do Antigo Testamento. Embora não haja grandes referências, é isto que parece! O videoclip é todo em tons de vermelho e mais tarde em branco. No entanto, os músicos parece que vão desaparecendo com o fumo. A bateria, e ainda as guitarras mais melódicas, contrastam com o gutural doentio deste vocalista que usa um tom avassalador que nos vai conquistando de tema para tema!





Ao atingirmos a primeira metade do álbum só me apetece utilizar uma expressão: "Pelos Deuses!". "Glare" é o tema que se segue e posso dizer-vos que esta bateria podia apresentar queixa por ser violentamente espancada durante toda a música. Todo o álbum é potente, mas este tema em particular é uma autêntica injeção de adrenalina. Em "Glare" vamos ao encontro da podridão em que se tornou a nossa vivência em sociedade! Munido de riffs soberbos, transições rapidíssimas e ainda "blast-beats" poderosíssimos que fazem deste "Glare" um dos melhores temas de todo o álbum.






"Conspiranoia" é o quarto tema de “Limbo” e temos um videoclip todo ele gravado na Cidade Invicta. O lado profano destes senhores é assombroso! Em qualquer música ou tema de "Limbo" somos catapultados para uma demência brutal! Ao escutarmos "Conspiranoia", os Gaerea dão-nos espaço para recuperar da bomba que foi "Glare" para depois entrarmos novamente numa espiral vertiginosa que dura cerca de nove minutos. Podemos dizer que quando a noite cai, estes portistas rebentam com o mundo sem pedir licença! Tal como em "To Ain", voltamos ao circuito pessoal e de como podemos cair facilmente e ainda somos criticados por nos fecharmos e estarmos a sofrer com doenças mentais ou psicológicas. Mais um tema poderoso e pesado que demonstra o quão frágil é o ser humano.



 

Após passarmos a fase da esquizofrenia de "Conspiranoia", poderíamos pensar que nos iam dar espaço para respirarmos, mas não! Em "Urge" temos a violência a entrar de rompante sem pedir licença e que toma de assalto uma das salas mais nobres da cidade do Porto - o Teatro Sá da Bandeira. É um tema com um efeito "murro no estômago", pois ao escutarmos vemos a angústia e a decadência do Homem enquanto espécie. O nome "Urge" é isso mesmo, dado parecer que o tempo avança tresloucado e é urgente tomar medidas. É também o meu tema favorito do álbum. Quando eu era miúdo, lembro-me de andar na escola a ouvir Heavy Metal nos tempos livres e de andar sempre a trautear coisas rápidas e que suassem bem. Neste tema é exatamente isso que vemos, uma rapidez brutal, uma bateria que parece uma metralhadora e ainda guitarras que mais uma vez acompanham um vocalista tresloucado que usa a demência como uma das suas principais armas na composição escrita e musical.





"Mare", o nome em latim para mar. O mar pode ser o sustento ou o infortúnio de muitos. Tanto pode ser calmo como revolto. Ao escutarmos o último tema de "Limbo" é exatamente isso que ouvimos! Um início calmo, relaxante que dá para recuperar da loucura que foi "Urge", para de seguida irmos violentamente contra as ondas. Tal como em "Conspiranoia", em "Mare" os Gaerea dão-nos oportunidade para encher os pulmões de ar, para depois avançarmos directamente, para o mar revolto que vai durar 13 minutos. Águas revoltas, onde uma bateria, guitarras e a voz agoniante se vão desvanecendo à medida que o tempo vai passando. São 13 minutos em diminuendo de um álbum estonteante e avassalador. "Mare" leva-nos ao revolto da consciência Humana e ainda à calmaria que esta por vezes pode ser. Um tema que fecha "Limbo" com chave de ouro.







WE ARE GAEREA

No panorama nacional posso dizer que fomos brutalmente assaltados por este "Limbo". Com um som consistente, este segundo álbum dos portistas, gravado pela Editora Season Of Mist, catapultou a banda para o estrelato e depois disto, nada vai ser a mesma coisa. Que som estrondoso, e gratificante! O Black Metal com a entrada destes senhores em cena fica claramente a ganhar. É perfeitamente visível as inspirações de Gaerea em bandas como Behemoth ou MGLA. “Limbo”, é digamos que uma lufada de ar fresco no panorama nacional, após bandas como Moonspell ou More Than A Thousand terem conquistado o mundo, é a vez dos Monstros da cidade Invicta o fazerem. Permitam-me apenas o seguinte: muito se fala em Portugal do facto dos artistas que cantam em Inglês não representarem o país ou a nacionalidade. No entanto, discordo. Gaerea são o exemplo de que não é preciso cantar em português, para se sentir um país. Todo o mundo fala desta banda e eu cito o maior poeta de todos os tempos: 

"Cale-se de Alexandre e de Trajano;

A fama das Vitórias que tiveram;

Que eu Canto o peito ilustre Lusitano"