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Final Veredictum: Marilyn Manson - We Are Chaos

 



Marilyn Manson, quer se goste quer não, é sem sombra de dúvidas um dos maiores ícones da música pesada.
Criado numa família profundamente tradicional e católica, Brian Warner foi educado num colégio católico, mas ao ser apresentado ao Rock como música proibida e que não deveria ouvir, os seus horizontes alargaram-se e a curiosidade falou mais alto, pois como se costuma a dizer o fruto proibido é sempre o mais apetecido e assim Brian fundou Marilyn Manson And The Spooky Kids, com o pretexto de exaltar os dois maiores espectros da cultura pop a atriz Marilyn Monroe e o assassino Charles Manson.
O seu primeiro álbum "Portrait Of An American Family", produzido por Trent Reznor dos Nine Inch Nails foi uma surpresa no mundo da música, trazendo uma aura mais psicadélica e surreal, combinando elementos da cultura pop com cartoons de forma caricata. 
O objetivo era e sempre foi chocar, não apenas através da música mas também pelo visual ousado e especialmente nas performances ao vivo repletas de teatralidade, ousadia, inuendos sexuais, roupas extravagantes e crítica social.
No EP "Smells Like Children", surgiu a famosa cover dos Eurythmics, "Sweet Dreams" que elevou Marilyn Manson a um novo patamar.
Seguiram-se 3 álbuns icónicos, "Antichrist Superstar, "Holy Wood (In the Shadow of the Valley of Death)" e "Mechanical Animals".
Após esta triplice dourada aclamada pela critica, ouve um sucessivo declínio nos lançamentos do artista que se foi vendo envolvido em controvérsias tanto com a igreja como com os media tradicionais, sendo que o caso mais grave foi Manson ter sido culpado injustamente pelo tiroteio que ocorreu em Columbine.
Marilyn Manson reinventou-se vezes e vezes sem conta mas o choque sempre foi uma característica bem vincada em toda a sua carreira repleta de êxitos e quer gostassem ou não dele nunca se importou porque sabia que ninguém lhe era indiferente.
Agora com 51 anos de idade, Marilyn Manson traz-nos "We Are Chaos", que vem suceder aos álbuns anteriores "The Pale Emperor" e "Heaven Upside Down", um álbum diferente de tudo o que o artista compôs ao longo de toda a sua discografia.



"Red Black And Blue" inicia o álbum com um estilo spoken word, mas que depois dá lugar a uma faixa bastante ritmada a nível instrumental e com algumas oscilações entre o estilo vocal característico de Marilyn Manson mas também alguns vocais mais rasgados.


"We Are Chaos" reveste-se de acordes de guitarra acústica e é uma música bastante introspectiva e reflexiva sobre a humanidade e o estado do mundo em que vivemos.
Confesso que a primeira vez que a ouvi fiquei um pouco de pé atrás, mas com algumas audições sucessivas, foi-se tornando cada vez mais contagiante.
A mensagem desta música fala sobre a nossa evolução e de como somos uma espécie que apesar de ter evoluído ao longo dos séculos, caminha para o seu declínio pelas suas próprias mãos.


"Don't Chase The Dead" vai beber um pouco ao estilo mais progressivo que encontramos em músicas como "Killing Strangers" ou "Third Day Of A Seven Day Binge" presentes em "The Pale Emperor".
Com um toque de blues aliado a um instrumental mais rock'n'roll, é uma música que parece extraída de uma banda sonora de um filme ou de uma série.
O videoclipe da música conta com a participação do ator Norman Reedus e foi filmado como um B Movie de gangsters.


Com um toque de sedução e glamour, Paint You With My Love, continua onde "Don't Chase The Dead terminou e esta música pode fazer lembrar um pouco, "If I Was Your Vampire", do álbum "Eat Me Drink Me".
Mais calma e contida é uma balada versátil e contagiante que mostra um Marilyn Manson magoado pelas feridas do amor que são reveladas nesta música.
Existe uma poesia na dor e isso sente-se na segunda parte da música quando após um crescendo instrumental Manson grita a plenos pulmões "It's Not A Life Sentence But A Death Dream For You!", a dualidade de Manson que começa doce e romântico e nos arrebata com este tom mais pesado no final só nos revelam a sua genialidade, nesta que é para mim uma das músicas que mais fica na cabeça de todo o álbum.


Half-Way & One Step Forward, mostra Manson a debater-se com os seus vícios existe uma negação ao longo da música que fazem parte do discurso de todos os que têm problemas com vícios, dizem sempre que não existe nenhum problema, até ser tarde de mais e aqui Manson na letra desta música evidencia mesmo este ponto sem retorno.
Nestas duas músicas nota-se bem o tom mais pessoal e intimista a que Marilyn Manson nos convida a conhecer neste álbum.
Marilyn Manson já não é uma persona mas sim um reflexo da sua personalidade dúbia e dividida. 


"Infinite Darkness", dispõe de um instrumental e ritmo que me remetem para a cover de "Tainted Love" dos Soft Cell, que consta na setlist do álbum "The Golden Age Of Grotesque".
Com um inicio dissonante "Infinite Darkness" começa calma com um tom sussurante até que Manson irrompe no refrão com um fry scream característico.


Na segunda parte do álbum entramos logo com a minha música favorita, "Perfume", esta ficou-me na cabeça logo à primeira audição, com um instrumental bastante diversificado, é uma música que contagia. Apesar do instrumental ser mais descontraído, é uma faca de dois gumes, pois o conteúdo lírico é tudo menos isso. Aborda uma relação amorosa com o Diabo e fala de relações abusivas em que as pessoas por vezes vêem-se envolvidas a um nível tão profundo do qual já não conseguem sair.


"Keep My Head Together" é altamente introspetiva e reflete sobre os contornos que os problemas psicológicos têm tido na sua vida, fala sobre deixar o passado onde pertence e manter a cabeça no lugar mesmo que todos esperem que cave a sua sepultura.
O intrumental é variado e existe aqui alguma presença de sintetizadores que ajudam a dar uma maior dimensão à música, a bateria é ritmada e o baixo ajuda a compor esta música que para mim a nível instrumental é das mais ricas de todo o álbum.


"Solve Cogula" volta a deambular pelos problemas de Manson de forma introspetiva e a música é usada para expressar o que o artista sente deixando as palavras saírem para todos ouvirem.

"I'm not special, I'm just broken
And I don't wanna be fixed"

Autodestruição e conforto na dor é o que a voz de Marylin Manson nos vai transmitindo ao longo desta música que é um desabafo.

"No one else I
No one else I
Wanna be like
So I stayed the same
Like nobody else"

Manson sempre se manteve fiel a si próprio nunca tentou ser como ninguém nem agradar a quem quer que fosse e isso tem consequências.


Broken Needle é a última música de We Are Chaos e encerra de forma catártica, numa balada de destruição, onde ouvimos na minha opinião o melhor registo vocal de Manson de todo o álbum, acompanhado por piano e guitarra acústica.
Nota-se a inspiração de Johnny Cash e David Bowie neste registo mas também um pouco ao longo de todo o álbum.




We Are Chaos é o álbum mais pessoal de Manson e é muito mais revelador sobre quem é Marilyn Manson do que qualquer entrevista que o artista já deu.
Tal como um vinil tem dois lados completamente distintos mas que se complementam e foi concebido para ser ouvido do início ao fim.
Foge completamente ao que estamos à espera de Manson, que já deu todas as provas que tinha a dar mas que mesmo assim continua a dar cartas.
É a prova também de que por vezes, menos é mais e neste caso é mesmo. 
Não é um álbum de Metal nem é um álbum de shock rock, é sim um autorretrato em formato audível de um homem que viveu mil vidas ao longo de uma carreira icónica com altos e baixos e onde não vemos tanto o entertainer mas sim o artista.