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Final Veredictum: All Kingdoms Fall - Vanuatu's Tumble/ Adamant Code - Prescription


Hoje trazemos-vos mais dois EP's de dois novos projetos do underground nacional, um do Porto e outro do Algarve, com o objetivo de vos mostrar o que de bom se faz por cá, de Norte a Sul do país.
Lançado a 1 de Julho de 2020, "Vanuatu's Tumble" é o primeiro trabalho dos All Kingdoms Fall, uma banda portuense composta pelo vocalista Márcio Pinto, os guitarristas Filipe Vilela e Jorge Lopes, o baixista Marcos Silva  e o baterista Nuno Pereira.
Após ouvir este EP reconheço que têm uma sonoridade compreendida entre o Metalcore e o Hardcore e que se assemelha a bandas como Converge, The Dillinger Escape Plan, Beartooth, Knocked Loose e Misery Signals


O EP começa com "Unbaptism", rápida e cataclísmica é uma música que não deixa pedra sob pedra os breakdowns são pesadíssimos e a banda está sempre a tocar a uma grande velocidade.
Unbaptism é um grito de revolta contra a religião repleta de agressividade e breakdowns.


"Faust" é uma música contagiante, repleta de agressividade, raiva e emoção, que fala sobre escolhas e sofrimento e como as nossas decisões afetam o nosso futuro.
O breakdown está espetacular e faz-me querer começar a mandar rotativos, espero que depois desta pandemia desaparecer estes meninos possam trazer este peso à capital, apesar de haverem muitas bandas novas este é um estilo de hardcore que já não se vê muito hoje em dia.


"Rusted Machine" já vai beber um pouco mais ao hardcore moderno e faz-me até lembrar um pouco a música "I Have A Problem" dos Beartooth que integra o álbum "Disgusting".
É também a música onde são utilizados mais estilos vocais distintos, sempre dentro do gutural e sem espaço para clean singing e onde se ouve melhor o baixo.


"The Bridge" surpreendeu-me pelo seu solo de guitarra, é notável quando uma banda de Hardcore ou de Metalcore consegue incorporar no ritmo frenético característico destes géneros, algo mais comum ao Thrash e ao Heavy Metal tradicionais e se bem incorporado, a meu ver, um bom solo de guitarra fica sempre bem.
A bateria mantém os blast beats e as guitarras, adoptam o estilo Djent e é aqui que vejo fortes influências de bandas como Converge ou Misery Signals, especialmente na voz.


"Vagrant", começa logo a abrir, cáustica e a destilar raiva, é uma música impactante e que nos desvenda logo o que podemos esperar desta banda, um hardcore possesso, repleto de guturais cáusticos e arrepiantes, uma bateria repleta de blast beats, guitarras a derramarem riffs portentos e umas bass lines fortíssimas, tanto a voz como o instrumental fundem-se de forma exímia.
De realçar também que é uma música de seis minutos o que quebra os moldes do Hardcore tradicional, onde normalmente as músicas têm uma menor duração, mas aqui nem damos pelo tempo passar.
Além do peso, a banda demonstra uma técnica apurada e uma excelente construção musical, capaz de ter momentos em que destilam peso a torto e a direito e outros onde existe espaço para melodia que trazem uma maior densidade à música.


O EP termina aqui, mas eu como gostei tanto desta banda, ainda vos trago mais uma música, "Grey Eyes o primeiro single da banda que não integra, "Vanuatu's Tumble" e foi lançada antes do EP a 28 de Janeiro de 2020
"Grey Eyes mostra-nos as claras intenções da banda, de forma arrojada, trazer algo novo ao Hardcore nacional, o peso que aqui se pratica é surpreendente e a construção músical e técnicas aqui apresentadas também.
É mais uma vez uma música de Hardcore de maior dimensão totalizando os 5 minutos e 15 segundos e com um solo de guitarra a acompanhar, quebrando totalmente as barreiras do Hardcore tradicional.


Os All Kingdoms Fall são uma banda que têm tudo para terem sucesso, o peso aliado à técnica e à melodia que aqui é demonstrado traduz-se em músicas contagiantes e carregadas de emoção.
Apesar da sua música ainda só se encontrar em formato digital são daquelas bandas que deveriam de editar em formato físico, eu sou suspeito, pois tenho uma coleção recheada de CD's e não me importava nada de adicionar um álbum destes meninos à coleção depois do que aqui ouvi.


Rumando a sul vamos agora desvendar mais outro tesouro do underground nacional, um projeto recente e com uma sonoridade distinta, os Adamant Code.
A banda é composta pelos vocalistas VanBispo e João Mourato, os guitarristas Chucky e Tassilo Martin, o baixista Sandro Candeias e o baterista Nuno Tomé.
Com um som que mistura Metalcore com Nu Metal, trazendo um toque de modernidade a uma sonoridade que é facilmente reconhecida pelos milenials, que cresceram com bandas como Papa Roach, Rage Against The Machine, Three Days Grace ou Linkin Park.


A primeira música de "Prescription", intitula-se "Me Against The World" e logo aqui a banda desvenda-nos a sonoridade que podemos esperar ao longo de todo o EP.
Posso dizer-vos que a primeira vez que a ouvi senti uma nostalgia brutal que me remeteu para bandas  que cresci a ouvir, antes de descobrir outros géneros mais pesados e que apesar de hoje já não ouvir tanto a sua música como na altura, guardo-as com um carinho especial por me abrirem caminho para o que oiço hoje em dia.
Logo aqui vemos a mais valia da banda ter dois vocalistas que se conjugam bastante bem, um traz o Rap Metal com versos carregados de emoção e uma letra contagiante e outro traz-nos uma voz mais ríspida com um subtil estilo gutural.
O instrumental apesar de não ser muito complexo demonstra uma técnica apurada e concisa.


"I don't Belong To You" foi a música que mais ficou na cabeça de todo o EP, utiliza um estilo de escrita que me remete para bandas como Three Days Grace e leva-me para outros tempos de desgostos amorosos onde a voz de Adam Grontier ecoava nos meus headphones e me trazia conforto.
É uma música cativante onde as guitarras têm riffs interessantes e um solo de guitarra pelo meio que acompanha o screamo, a bateria também não pára um único momento.
É daquelas músicas que acredito que ao vivo fará furor e vai pôr todos a cantar a letra a plenos pulmões.


"Pain and Struggle" foi o primeiro single da banda revelado a 1 de Dezembro de 2020 e o meu primeiro contacto com esta banda, através de um Track Atack no Facebook do Not'Abaixo e o que disse mantém-se.
É uma música com um som que mistura influências de Rap Metal e Nu Metal com uma pitada de Metalcore.
"Pain And Struggle" tem uma letra positiva que é expressada com um Rap Rock que me faz lembrar um pouco Papa Roach ou até mesmo Linkin Park nos seus primeiros álbuns, mas depois para definirem melhor a sua identidade, a banda introduz alguns guturais bem rasgados mais comuns ao Metalcore, bem como um pequeno breakdown que ajuda a adicionar variedade à música e à panóplia de géneros que aqui confluem e que acabam por resultar bastante bem.
Este primeiro single mostra-nos uma banda que ainda se está a conhecer e que ainda se está a definir, mas que já apresenta bases bastante sólidas.


"Pop Another Pill" começa logo com algo que não se vê muito hoje em dia e a meu ver a banda ganha bastantes pontos por utilizar e bem, o estilo scratch de um guitarrista que toca como se fosse um DJ, técnica que ficou conhecida graças a Tom Morello nos Rage Against The Machine.
Fala sobre saúde mental, depressão e medicação e a forma como temos de nos desafiar a nós mesmos e contrariar a tendência que temos em deixarmo-nos ir abaixo, não é fácil mas temos de ser nós.
É uma música energética e frenética que aborda um tema que ainda é visto pela sociedade como algo taboo e não como uma doença que pode bater à porta de qualquer um e eu acredito seriamente que é através da música e das artes que se pode fazer a diferença e esta música comprova isso mesmo.


"Broken Dreams" é a última música do EP e fala sobre lutar contra as adversidades, falta de autoconfiança e aprender com os erros.
Fala sobre sonhos que foram quebrados e mostra novamente um estilo vocal mais ríspido e um andamento mais lento que encontramos também em "Pain And Struggle", ambas as músicas complementam-se.
Se o início de "Prescription" foi mais rápido e agressivo este final mostra-se mais calmo e catártico.




Os Adamant Code são uma banda que trazem-nos aqui um ressurgimento de uma sonoridade que hoje em dia já não tem o impacto que teve outrora, no entanto a forma como a banda o faz ao incutirem neste EP uma panóplia de géneros e sonoridades fazem com que se destaque das restantes bandas do underground nacional, por procurarem fazer algo diferente sem cair na tentativa de cópia. 
Este EP demonstra bem que ainda estão a dar os primeiros passos mas que já têm um estilo bem definido e uma identidade própria.
Aguardamos um álbum de longa duração, o que aqui têm já é muito bom.
Acompanhem a banda através das suas redes sociais e fiquem atentos ao que eles vão lançando, pois a meu ver são uma banda bastante promissora.