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Final Veredictum: Epica - Omega



Este é um dos lançamentos de 2021 que eu queria há muito falar. Para aqueles que para além do Heavy Metal gostam e apreciam a música clássica, este álbum é a prova que os dois estilos são variáveis que se conjugam muito bem - há ainda quem diga que o próprio estilo que nós tanto apreciamos pode ser uma evolução deste tipo de música. 

Sem grandes demoras, apresentamos o novo álbum daqueles que conseguem ser a melhor banda do género "Symphonic Metal" na atualidade, os holandeses Epica. A banda foi formada em 2002 na cidade de Reuver, pelo vocalista Mark Jansen. Actualmente a banda é composta por Mark Jansen nos guturais e na guitarra, Simone Simons na voz, Isaac Delahayhe na guitarra, Coe Janssen nos teclados, Ariën Van Weesenbeek na bateria e ainda Rob Van Der Loo no baixo. 




“Omega” é o 8º álbum da banda e conta com 12 faixas. O álbum tem o cunho da Nuclear Blast que é uma das grandes editoras de música pesada da atualidade. Dimmu Borgir, Slayer, Children Of Bodom ou Testament, são algumas das bandas que já trabalharam com estes alemães. 

A banda começa esta sinfonia com "Alpha - Anteludium". Assim que começamos a ouvir o primeiro tema somos catapultados para um mundo de fantasia. É um tema instrumental que começa com um som de teclas em que, à medida que vai progredindo, vamos ouvindo os instrumentos de cordas e de sopro a entrar em acção dando sempre a sensação da banda estar em crescendo. Se fecharmos os olhos, parece que entramos num filme relacionado com a lenda do Rei Artur e da Excalibur. Os coros, neste tema, dão ainda mais a sensação de estarmos a entrar numa Epopeia toda ela cantada e tocada!



A percussão, os guturais e as guitarras distorcidas entram em cena com "Abyss Of Time - Countdown To Singularity". A simbiose criada pelos guturais intensos de Mark Jensen, com os agudos límpidos e majestosos de Simone Simons são soberbos. Como se a luz e as trevas não fossem inimigas, mas sim aliadas. Esta sensação é tão nítida que passa para os instrumentos. O lado sinfónico dos elementos de cordas presentes no tema, parece que transita para os coros que acompanham Simone no refrão. A bateria também não pára. Com diversos "blastbeats" que aceleram à medida que a composição avança, e que fazem com que o tema fique mais pesado. Este também desacelera e ganha um tom mais assombroso e medonho assim que a segunda parte entra com uma declamação de Mark Jensen num gutural profundo. Magistral! O tema acaba com o refrão cantado pela última vez numa das faixas mais espetaculares de todo este “Omega”.



"The Skeleton Key" é talvez de todo o álbum, o tema mais sinistro. O vídeo clip mostra várias figuras sinistras como se de demónios se tratasse. O tema tem como parte fundamental um teclado sinistro que bem podia ser utilizado em filmes de terror. Mark Jansen mais uma vez com uns guturais a rasgar que se misturam no tom mais grave das cordas e dos elementos de sopro. A própria voz de Simone tem um tom mais grave que se mistura com este teclado assustador e ainda um baixo que entra em cena para dar mais alento ao negrume da composição. O refrão pelo contrário, parece por momentos um candeeiro de luz no meio desta escuridão. O tema e a letra parecem ser a personificação dos nossos medos e receios. As horas mais longas das noites de insónias que são o espelho da ansiedade e depressão.



Em "Freedom - The Wolves Within", vemos a eterna batalha entre a escuridão e a luz. Este tema pode simbolizar as amarras que nos prendem e a forma como lutamos contra elas. Pode também representar a forma como lutamos para ir de encontro à luz que é vista como a liberdade que tanto procuramos nas nossas vidas. O início deste tema começa com "riffs" mais tecnicistas que transitam para um coro majestoso à medida que vai avançando. A nível vocal vemos um tom límpido mas grave de Simone, semelhante aos guturais de Mark Jansen, conduzindo esta sinfonia para o abismo. O vídeo clip mostra logo no início uma criança que está a ser introduzida à idade adulta e onde aprende a arte da guerra. Mais tarde, já adulto, luta e defende os seus como se de um lobo se tratasse. Há muito que o Homem enquanto espécie venera este animal e permitam-me a comparação, mas quase que adoptámos a sua hierarquia para a nossa própria existência. Um grande tema neste “Omega”! 



Todos nós temos aquelas músicas que ficam ligadas para sempre à nossa vida, sejam elas mais rápidas e aceleradas, ou mais calmas e melodiosas. De todo o álbum, esta sem dúvida irá acalmar-vos e deixar-vos a suspirar. "Rivers" é o tema deste “Omega” em que Simone assume o papel principal e solta todo o seu esplendor. A melodia e a harmonia neste tema, andam de mãos dadas e as notas mais agudas e límpidas de Simone fazem desta balada um tema a destacar no álbum. "Rivers" é um tema onde as cordas e o tom mais pesado entram na última parte, mas mesmo assim o tema como um todo tem o cunho "Heavy Metal" presente. Este é mesmo um dos mais épicos de todo o álbum já que os coros, os "back vocals", os agudos, as teclas, as cordas funcionam divinalmente bem, a percussão e a distorção das guitarras entram na parte final para dar a sensação de "crescendo" que se vinha a fazer notar desde o início - embora haja transições entre os momentos mais altos e mais baixos conforme as variações vocais de Simone.







Em “Omega” podemos ver que Epica consegue melhorar ainda mais aquilo que há de melhor dentro do género “Symphonic Metal”. Como disse, são no momento a melhor banda dentro deste subgénero. Acredito que a banda ainda não tenha atingido a sua melhor forma, pois de álbum para álbum conseguem sempre introduzir novos elementos sem perder a sua verdadeira essência. A constante evolução da banda, as constantes abordagens à introdução de novos elementos, quer sejam mais clássicos com arranjos orquestrais, que sejam os momentos em que a banda introduz partes mais relacionadas com o “Death Metal”, fazem com que as músicas fiquem mais sugestivas e apelativas mesmo para aqueles que não apreciam o “Symphonic Metal”. “Omega” é uma espécie de oscilação entre a escuridão e a luz. Os próprios temas transmitem isso mesmo. A luz que emana da voz de Simone com o negrume dos guturais de Mark são o equilíbrio maior entre o bem e o mal. Com temas mais calmos onde tudo parece mágico e ainda temas rápidos e acelerados onde parece que a sinfonia caminha para o abismo e destruição, fazem deste “Omega” um álbum que pode ganhar um lugar na coleção daqueles que apreciam música pesada e ainda a música clássica.