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Final Veredictum: Architects - For Those That Wish To Exist

 


Lançado a 26 de Fevereiro de 2021, "For Those That Wish To Exist" é o novo álbum dos Architects e vem suceder a "Holy Hell" e ao anterior "All Our Gods Have Abandoned Us".
Se "All Our Gods Have Abandoned Us" invoca o desespero, "Holy Hell" a desolação, então "For Those That Wish To Exist" é um álbum que remete para a resolução e para a vontade de querer continuar após a tragédia.
A tragédia a que me refiro foi a perda do guitarrista e tecladista da banda Tom Searle a 20 de Agosto de 2016.
Sem ele, a banda viu-se sem rumo. Mesmo assim Holy Hell foi um álbum que surpreendeu e posso dizer-vos que para mim o melhor da sua carreira, pois mesmo no meio da dor e do desespero os Architects compuseram uma obra prima de Metalcore moderno, combinando peso e melodia, com uma técnica soberba como só esta banda consegue.
Em 2004 em Brighton, Inglaterra, nascia uma banda promissora de Metalcore fundada pelos irmãos Dan e Tom Searle com vontade de deixar a sua marca. Os Inharmonic, que depois deram lugar a Counting The Days e por fim decidiram mudar o seu nome para Architects.
A banda actualmente é composta pelo baterista Dan Searle, o vocalista Sam Carter, os guitarristas Adam Christianson e Josh Middleton (guitarrista de Sylosis) e pelo baixista Alex "Ali Dino" Dean.
Com sete álbuns na sua discografia e dois EP's editados, os Architects são atualmente uma das referências no panorama do Metalcore atual e uma enorme fonte de inspiração para muitas das bandas que seguem as suas pisadas.


"Do You Dream Of Armageddon" é a intro que começa a levantar o véu sobre o que vamos encontrar em "For Those That Wish To Exist", logo nesta primeira faixa notamos algumas diferenças na composição musical e influências sonoras que a banda traz para este álbum.
Para quem iniciou Holy Hell com "Death Is Not Defeat", uma faixa explosiva e abismal, "Do You Dream Of Armageddon", é uma introdução muito mais catártica, reflexiva e expansiva.


"Black Lungs" foi o segundo single a ser revelado pelos Architects e deixou-me completamente boquiaberto da primeira vez que a ouvi. É uma faixa que combina na perfeição peso e melodia repleta de Breakdowns e com uma letra magnifica e impactante. As guitarras arrebatam-nos com riffs ferozes, a bateria de Dean Searle é ritmada e com uma explosividade devastadora, mostrando-nos a ferocidade com que os Architects vêm para este álbum, calando todos os maldizentes que precocemente assumiram que a banda tinha optado por um caminho mais comercial.


"Giving Blood" é uma música contagiante que nos mostra um lado diferente dos Architects e nos permite ouvir nitidamente os clean vocals de Sam Carter. 
Apesar de ter uma sonoridade diferente é uma música com alguns elementos de eletrónica e que nos marca pela melodia e pelo refrão que fica no ouvido.
As guitarras dissonantes e com algumas técnicas distintas marcam pela diferença, a eletrónica conjuga-se com a secção instrumental tornam esta uma música bastante dinâmica.


Segue-se "Discourse Is Dead", pesada quanto baste com inúmeros riffs Djent e com distorção das guitarras de Adam Christianson e Josh Middleton, é uma música repleta de arranjos orquestrais que trazem uma atmosfera grandiosa que chega a arrepiar.
Os guturais ríspidos e crus de Sam Carter que no refrão e no build up são substituídos por clean vocals trazem também alguma diversidade à música.


 "Dead Butterflies" é uma das músicas mais surpreendentes de "For Those That Wish To Exist" apesar da sua simplicidade, dispõe de uma beleza inerente aos arranjos orquestrais que a envolvem e se fundem com a secção instrumental que com um andamento calmo culmina num incrível refrão.
É um tema belíssimo e que mostra a vontade progressiva dos Architects em quererem fazer algo diferente e único.
Para todos os que julgavam conhecer a sonoridade dos Architects desengane-se em "For Those That Wish To Exist" nota-se uma grande evolução e maturidade na música que esta banda compõe e "Dead Butterflies" é um exemplo perfeito disso mesmo.



"An Ordinary Extinction" começa com uma batida eletrónica dissonante e depressa é avassalada por alguns riffs Djent que dão lugar a clean vocals por parte de Sam Carter até chegar o refrão bastante antémico. 
É uma música que combina melodia com um suave toque de agressividade e que tem algumas secções vocais mais rispidas.


Chegamos agora à minha música favorita de todo o álbum e que para mim é um sonho tornado realidade pois "Impermanence" tem como guest vocal, nada mais nada menos do que Winston McCall dos Parkway Drive e aqui eu não consigo ser imparcial Architects e Parkway Drive são duas das minhas bandas favoritas, já tive a oportunidade de ver ambas as bandas ao vivo e ver os dois juntos é fenomenal.
Voltando ao registo de reviewer e deixando o meu lado de fã para outras ocasiões, "Impermanence" é uma das músicas mais pesadas de todo o álbum e para mim além da prestação dos Architects tenho de dar destaque à prestação de Winston que acompanhado de um breakdown cataclísmico é mesmo o ponto alto desta música.

"Even the doomed refuse
We were born to lose
Do you really wanna live forever?
'Cause those afraid to die will never truly live
They'll never truly live"


No espectro completamente oposto "Flight Without Feathers" foi a música que menos gostei neste álbum.
Aqui na minha opinião as coisas não correram tão bem, é melódica e vai beber demasiado ao Pop e tem demasiados elementos eletrónicos e a secção instrumental da banda é inexistente.
Depois de uma música como "Impermanence", Flight Without Feathers" dececionou-me.


"Little Wonder" conta com a participação de Mike Kerr dos Royal Blood, é uma música bastante dinâmica repleta de clean vocals e de uma batida de electrónica mas que aqui resultou bastante bem, Mike Kerr traz uma nova camada à sonoridade que os Architects pretendiam neste álbum, as guitarras são simples mas estão bem presentes e esta influência de Indy Rock é bem vinda.
O Breakdown não é nada de surpreendente mas mostra um registo mais agressivo por parte de Sam Carter e não é uma música que se destaca mas no geral considero que foi bem conseguida.


"Animals" foi o primeiro single revelado pelos Architects e foi uma surpresa. 
Depois de ter ouvido Holly Hell e a primeira música divulgada ser esta foi algo inesperado.
Esta é uma música que tal como um pouco em todo o álbum vemos mais presença de elementos eletrónicos do que nos trabalhos anteriores da banda, e obviamente e de forma imatura e preguiçosa muitos comparam-nos a Bring Me The Horizon. Sim existem algumas semelhanças na sonoridade de ambas as bandas mas o que os Architects nos trouxeram em "For Those That Wish To Exist" é muito diferente do que o que os Bring Me The Horizon trouxeram-nos em "AMO" ou no EP "Post Human Survival Horror" e a meu ver é redutor comparar trabalhos tão distintos como muitos fizeram.


Agora um rápido à parte, apesar de infelizmente não integrar o álbum os Architects fizeram uma excelente versão orquestral de "Animals" nos Abbey Road Studios que na minha opinião todos deveriam ouvir porque ficou soberba e por isso vou deixar aqui também para poderem escolher qual das duas versões gostam mais.


Depois da pedra que é "Animals", segue-se "Libertine".
Com uma introdução em crescendo que culmina numa explosão de guturais de Sam Carter, o refrão é melódico e antémico, as guitarras derramam riffs Djent a torto e a direito e a bateria de Dan Searle não pára um único instante, acompanhando a ferocidade da voz de Sam.
Esta ferocidade só abranda a meio da música onde temos um momento pré refrão onde prevalecem os clean vocals, seguindo-se-lhe uma secção que novamente volta a mostrar-nos um crescendo e que eu adorei, pois a conjugação da técnica vocal com a letra resultou muito bem até que...


... entra "Goliath", que sucede a Libertine".
Goliath é mais melódica que "Libertine", mas tem um nível de peso inferior, apesar do refrão ser mais antémico ainda.
Aqui ouvimos a participação especial de Simon Neil, vocalista e guitarrista de Biffy Clyro, com uma voz inconfundível para quem já conhece um pouco do cardápio da banda.
O que me surpreendeu é que até temos uma secção mais ríspida por parte de Simon Neil e que se conjugou de forma simbiótica com a voz de Sam Carter e com um final com a presença de violinos, o que mais se pode pedir de uma música?


"Demi God" é uma música quase transcendente com uma ambiência épica e com uma sonoridade muito própria, mais uma vez a presença de elementos orquestrais a fazerem maravilhas, é melódica quanto baste e deixa-nos completamente deliciados enquanto a ouvimos.
O único problema para mim é a secção mais robótica onde é utilizado subtilmente auto tune e para mim auto tune é algo que dispenso na música pesada e digo mais para um vocalista como Sam Carter para mim é quase inconcebível a sua utilização e é o ponto mais negativo que tenho a realçar em relação à música portenta que é "Demi God".


"Meteor" foi o último single divulgado pelos Architects anteriormente ao lançamento do álbum.
Da primeira vez que a ouvi não fiquei surpreendido, considerei que era demasiado repetitiva, demasiado limpa, demasiado radio friendly, demasiado simples, mas a verdade é que tal como me acontece muitas vezes é daquelas que melhora a cada audição e este refrão que nos fica na cabeça também é o culpado disso.
Ao ouvir a sua letra com atenção fui-me começando a habituar mais à sua sonoridade e agora posso dizer-vos que já gosto muito mais e compreendo a intenção na composição desta música, algo que à primeira audição não aconteceu.



"Dying Is Absolutely Safe" é a música que encerra o álbum da melhor forma possível de uma forma lindissima e sublime que em alguns momentos confesso que me tenha feito verter uma ou outra lágrima.
Começa com uns arranjos orquestrais e com uma guitarra acústica que acompanha a voz limpa de Sam Carter, que aqui mostra o cantor de mão cheia que realmente é, conseguindo atingir guturais cavernosos, mas também cantar de forma melodiosa e com uma harmonia incomparável, algo que já tinha sido ouvido em alguns momentos em "Holly Hell" mas que é muito mais explorado em "For Those That Wish To Exist.




"For Those That Wish To Exist" é uma verdadeira montanha russa de emoções que vê os Architects ultrapassarem-se enquanto banda.
Se por vezes incomoda-me que as bandas sigam outro rumo, este não é o caso e por uma razão muito simples, esta mudança na sonoridade dos Architects foi feita de forma excecional e ao longo destas quinze músicas, não existe uma única que eu retirasse deste álbum e isso num álbum desta magnitude é surpreendente.
Se Holy Hell já tinha sido uma prova de fogo à resiliência desta banda, então For Those That Wish To Exist é literalmente ir ao desconhecido sem perderem a noção das suas origens e sem abandonarem a sonoridade que os fez serem quem são atualmente, uma das maiores bandas de Metalcore da actualidade.
Até agora 19 de Abril, este é o meu álbum favorito lançado em 2021, é também o álbum que mais ouvi este ano e para mim um sério candidato a ser o meu álbum do ano, podendo vir quem sabe a ser destronado por Gojira ou Beartooth, ou algo que sinceramente não estava nada à espera, veremos o que o resto do ano nos reserva.