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FINAL VEREDICTUM: BRING ME THE HORIZON - AMO


 Olá a todos aqueles que seguem este projeto com afinco. Depois de um hiato, decidi voltar a levantar a cortina para vos fazer um Final Veredictum que já se mostrava necessário desde que saiu o projeto mas que não deu para ser concluído. Falo-vos do álbum Amo dos saudosistas Bring Me The Horizon. 

Recuemos para uma época pré-corona onde o conceito de inclusão era vago e pouco expectável para o comum dos mortais, após quatro anos de um álbum conceptual sobre a depressão, Oli Sykes e a sua banda decidem refugiarem-se no amor. Depois da tempestade vem a bonança, e esta veio nos seus próprios termos. Envolta numa escrita mais serena e enigmática. Não há duvidas de que a banda está perante um amadurecimento e isso nota-se na sua música. 

Geralmente quando ouvimos as bandas a falar de "material mais amadurecido" ou "escrita mais coesa" acabamos por criar a desolada ideia de que vem aí mais um álbum de Soft Rock mais ou menos mascarado daquilo que a banda melhor consegue produzir e é mais conhecida por. No caso desta banda britânica foi exatamente o contrário. Sinto que esse foi o caso do Sempiternal, não do AMO. Aqui tivemos um amadurecimento lírico mas uma fortíssima sensação de experiência. 

Mas como diria Jack, o Estripador, vamos por partes. O álbum tem uma estrutura similar aos álbuns pop da altura, três temas separados entre si passando entre o amor, o desamor e a inevitável ideia de que somos efetivamente humanos. O conceito é esse, amarmo-nos enquanto humanos. Brilhante conceito posto em prática nas melhores formas que uma antiga banda de Deathcore conseguiu. Não é fácil compor musica pesada, rápida e veloz. Bring Me The Horizon provam que também não é fácil inovar nas músicas mais leves - mas é possível.


O album começa com a introdutória faixa "I apologise if you feel something", linhas sólidas de um synth espacial que nos fazem voar para uma existência esotérica. A banda não se propõe a criar aqui uma atmosfera caótica ou irritadiça. O álbum é uma viagem mais relaxada pela ideia do amor e da compaixão com linhas melódicas coesas mas frágeis como o final de uma relação. 

Adorei a mixagem das samples de voz do tecladista Jordan Fish, elemento fulcral na criação do projeto. 

Na segunda faixa ouvimos o primeiro single do projeto, "MANTRA", que abriga a ideia de que os humanos tendem a seguir cegamente outros. Revolve sobre o sentimento de pertença que tantos tentam buscar fazendo parte de grupos. MANTRA também se abriga na ideia da banda deixar de ser apenas isso para ser um "culto"- um género de parodia a muitas bandas que na altura tentaram enveredar por esse caminho larger than life.

Sonoramente, é uma faixa recheada de elementos alternativos do rock e metal, os synths são mais pormenorizados e os samples de voz estão mais presentes do que o baixo. Nesta faixa vão ainda ouvir alguns berros do Oli, mas já dá para perceber que essa não é a direção que a banda quer levar neste trabalho.

Seguimos para Nihilist Blues com participação da artista de Alt-Pop Grimes, uma entrada a pés juntos no avant-garde pop extremamente electrónico e diferente. Como o titulo diz, a experiência lírica prende-se no conceito do niilismo, corrente de pensamento que refere que nada interessa, nada vai fazer com que se mude o resultado final da vida que é a morte. Nesse mesmo conceito, Oli fala também sobre o uso de drogas e sobre o sentimento de desinteresse pela vida que elas provocam. Um tema cheio de relação intrínseca e uma viagem ao ser intimo. 

Grimes trouxe uma lufada de ar fresco às composições cheias de sintetizadores, trouxe uma voz robótica organizada e distópica. Como que um Big Brother no 1984 de Orwell, Grimes fala de uma perspetiva mais divina desconstruindo o niilismo por dentro revelando a necessidade de uma aproximação da realidade ao subconsciente. 

"In the dark", a quarta faixa do álbum, fala do sentimento de perda e da lembrança constante dessa perda. Fala principalmente no facto de percebermos que fomos enganados e traídos. Definitivamente uma vertente mais pop e um endereço constante a uma lírica fruto de uma relação atribulada do vocalista com o anterior casamento. Nesta faixa prenda-se a melodia e deixam-se de lado os arranjos metralhados. Não é necessário, é uma faixa mais cuidada e orientada para mais ouvidos chorarem junto uns dos outros enquanto se identificam. 

Na mesma onda estão faixas como "Medicine" e "Mother Tongue" que são autênticos hinos para serem cantados em estádios. Nesta direção, as composições de Jordan Fish e Oli foram mais do que capazes e altamente eficazes de nos meter a cantar em altos berros. Lanço só uma pequena curiosidade, a ex namorada do vocalista é a modelo brasileira Alissa Salls, de onde vem certamente o interesse pelo português presente no refrão de "Mother Tongue" e no próprio nome do álbum. 

No entanto, enquanto que "In the dark" e "Medicine" são duas formas de se lidar com o final de uma relação, "Mother Tongue" é uma declaração de amor, de que o amor não tem barreiras linguísticas, que um "eu amo-te" seja em que língua for, é uma frase bela e repleta de significado.

Vou-vos confessar uma coisa, odeio faixas de instrumental no meio de albuns, parece um cliffhanger no final de uma temporada de uma série que já andas a ver há anos. Fazem-me sentir prepotente face aos acontecimentos, e aqui não é exceção. No entanto, Jordan Fish criou o primeiro interlúdio que eu me vi a trautear. Sim, é raro e não tenciono fazer nos meus trabalhos, mas se há quem consiga fazer um cliffhanger num álbum cheio de significados e significado foi o Jordan - rematando um final que para mim é uma das frases mais bonitas do álbum e que demonstra ali uma dor e um sentimento de perda. 

"I know I said I was under your spell

But this hex is on another level

And I know I said you could drag me through Hell

Said I hoped you wouldn't fuck the Devil"


Descentralizando a ideia de amor por outrem, também existe o amor pessoal e o crescimento pessoal, coisas importantíssimas que a banda relata com músicas como "wonderful life" (com participação melódica e dramática de Dani Filth, que acrescentou um timbre tenebroso mas humano ao facto de se crescer).

Faixas como "why you gotta kick me when im down" e "Heavy Metal" relatam a complicada relação com os antigos fãs que se recusaram ao avanço sonoro da banda. Bateu-me de maneira mais pessoal pois sinto exatamente esse problema na pele mas sinto que é uma desvirtuação do tema principal e acrescenta pouco à mística da banda. Até acho sinceramente que estas duas musicas são as duas faixas mais fracas do projeto por se desvincularem do propósito do mesmo. 

"Heavy Metal", no entanto, destaca-se pelo beatbox no final da faixa proporcionado por Rahzel, e em termos de instrumentalização, é uma faixa que bebe mais do hip-hop e acabou por ser uma surpresa ver a banda a também piscar os olhos para a tendência mundial. Não desgostei do potencial que esta faixa trazia agregada. 


"Fresh Bruises" já é um interlúdio daqueles que eu acho chatos. Traz realmente um ritmo mais tribal como que um género de culto, falado no inicio do álbum, mas não achei que me puxava para ouvir o álbum, quanto muito para passar esta faixa à frente.

O projeto termina com a faixa "I dont know what to say", uma organização mais orquestral e mais pesada também devido ao tema que aborda a morte de um amigo. Faixa sólida que acaba o álbum com um pé nos trabalhos antigos. Foi provavelmente das decisões que menos gostei deste album. Para mim tinha terminado com "Mother Tongue", uma ode ao amor e terminava-se com um final feliz. Mas nem todas as relações tem um final feliz...



Apesar da coesão, muitas alternativas foram tomadas e o álbum tornou-se um dos, senão o mais experimental da banda que já anda na estrada desde 2004. É uma confusão organizada cheia de boas ideias. Algumas até excelentes que foram levadas a cabo por artistas talentosíssimos. Não é à toa que é o meu trabalho favorito de uma das bandas que mais me influenciou a escrever e a cantar. Excelente produto final com alguns cantos que precisavam de ser polidos e algumas decisões que precisavam de uma mão mais autoritária. 
É uma viagem belíssima e das mais versáteis que eu já ouvi do metal mundial. Um álbum que certamente vai fazer parte da coleção cá em casa.