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Final Veredictum: Angelus Apatrida - Angelus Apatrida


 

Quem diria que uma criatura divina poderia dar o seu nome para uma banda de Heavy Metal? Quando ouvimos o nome “anjo” pensamos logo nas criaturas que dominam os céus e fazem o trabalho de Deus. Este nome, também está associado ao som da lira e de outros instrumentos clássicos. No entanto, estes "anjos" seguiram o caminho oposto, pegando nas guitarras elétricas e numa bateria estonteante, tornando-se na maior banda espanhola da actualidade e num dos maiores nomes do "Thrash Metal" europeu dos nossos dias. Vindos diretamente do outro lado da Península Ibérica, Angelus Apatrida!

A banda foi criada no ano 2000 na cidade espanhola de Albacete, pela junção de duas bandas. Actualmente é composta por Guillermo Izquierdo na guitarra e na voz, José Izquierdo no baixo, Davish Alvaréz na guitarra e ainda Víctor Valera na bateria. Hoje vamos falar do mais recente trabalho da banda, "Angelus Apatrida" sucessor de "Cabaret De La Guillotine” lançado em 2018. O álbum homónimo é o nono da discografia dos espanhóis e é composto por 10 temas e foi gravado pela Century Media Records, editora que já trabalha com a banda desde 2009.




A banda começa este "Angelus Apatrida" com "Indoctrinate". Metam o volume no máximo, pois a agressão vem de rompante e não vai deixar nada de pé! Isto é o som do "Thrash Metal". Um som cru, selvagem, agressivo e violento. Numa introdução em que ouvimos um som de guitarra a distorcer, a banda arranca com um som esmagador. "Riffs" incrivelmente rápidos em que quase que não conseguimos respirar, misturados com um baixo que também é uma autêntica bala e ainda uma bateria que transita de "blast beats" para momentos de "double pedals" brutais. A loucura da banda transita também para os solos onde por entre as interrupções vocais de Guillhermo Izquierdo conduzem a composição para injeções brutais de adrenalina e ainda para uma agressão sem fim.




"Bleed The Crown", vem logo a seguir. Com uma introdução um pouco mais calma este tema é uma autêntica pedra! Antes da entrada da voz a bateria anda à solta como de um cão raivoso se tratasse. O "double pedal" de Víctor Valera é brutal! Com "riffs" assustadoramente velozes a banda não pára nos quase 5 minutos de tema. O solo é também ele distorcido dando a sensação de uma eminente agressão. Esta "Bleed The Crown" é para se ouvir ao natural e partir tudo no meio do "pit". A voz de Guillermo Izquierdo tem momentos que mais parece a voz de Chuck Billy, vocalista dos Testament e todo este tema tem várias influências dos gigantes da "Bay Area".




"The Age Of Disinformation", é o terceiro tema do álbum e… pára tudo! Um tema que fala na comunicação social como um verdadeiro cancro da sociedade moderna. Actualmente, em pleno século XXI, acredito que este tema possa vir a ser censurado em muitos países, tal é a sua forte mensagem política e social. Neste tema falo em nome da nação que me viu nascer e em que hoje em dia o seu Estado injecta milhões na Comunicação Social para controlar e espalhar o medo através da desinformação e das chamadas "fake news". Aqueles que procuram a verdade através dos meios de comunicação mais isentos tendem a ser calados, pois se não é o nosso Governo, acabam por ser os gestores das redes sociais a utilizarem a censura para controlar as massas. Um excelente tema de Angelus Apatrida que faz deste, uma verdadeira arma de arremesso.


  



Este álbum até agora não tem dado oportunidades para respirar e "Rise Or Fall", é exemplo disso mesmo. Com "riffs" alucinantes, Angelus Apatrida parece que trocou as guitarras por metralhadoras. O baixo tem também uma presença devastadora neste tema, com José Izquierdo a libertar uma fera que tem uma presença demolidora em "Rise Or Fall", mas a bateria de Víctor Valera… pelos Deuses! Entre transições demoníacas, "blast beats" insanos e "double pedals" infernais, este instrumento mais parece um carro de Fórmula 1 em que andar a toda a velocidade é a palavra de ordem!




Atingimos a metade do álbum com "Childhood's End". Um "riff" mais melódico, mas destrutivo - este é talvez o tema mais melódico do álbum. Mesmo assim, não deixa de ser um tema para se ouvir no meio de um recinto com a vontade de partir tudo. Guillermo Izquierdo, varia entre um tom mais grave e mais melódico. Os instrumentos continuam incrivelmente rápidos também. Uma bateria que tem boas transições e que continua bastante rápida, e ainda um baixo bastante audível, em que assim que acaba a primeira parte introduz um solo que apenas peca por ser demasiado curto, embora num tema que não tem 4 minutos, o resto do instrumental acaba por compensar o solo. 




Entramos na segunda parte deste homónimo de Angelus Apatrida com "Disposable Liberty! O "riff" que inicia o tema parece que nos vai enviar para um sítio mais calmo, pois tem aquela sensação de desaceleração, assim que metemos o pé no travão. Todos os instrumentos parecem seguir esta ideia. No entanto, e após a primeira parte do tema, temos uma aceleração dos instrumentos e Davish G Alvaréz presenteia-nos com um solo magistral, sempre em crescendo até a banda desacelerar tudo outra vez. Parece que Angelus Apatrida nos coloca num vórtice de repetição sem fim. Um tema que permite uma certa calma no meio deste autêntico furacão que temos escutado.




Vamos voltar a ficar sem ar com "We Stand Alone". A banda não tem um videoclip para esta música, apenas vemos o "artwork" do álbum com uma animação, mostrando com detalhe todos os elementos que o compõem. Com "We Stand Alone" volta o "Thrash" no seu estado mais puro. Os "riffs" utilizados nesta "We Stand Alone" são velocíssimos para não falar do baixo que roda também numa velocidade brutal. Víctor Valera também liberta toda a sua fúria e a bateria sofre a cada pancada do baterista, pois este utiliza várias transições de intensidade e velocidade. Um tema que espelha bem a intensidade da banda neste álbum, o som cru e a sensação de constante agressão a cada faixa que vamos ouvindo.




Em "Through The Glass" voltamos a desacelerar, embora o som continue bastante pesado. Parece que a banda dá um espaço para respirar, mas a densidade das variações dos instrumentos tornam o ar mais espesso, dificultando assim a tarefa. Aqui a banda parece alertar para as falsas seguranças que são criadas. As constantes mentiras, as falsidades ou as ilusões em relação a outros que podemos imaginar ou criar, têm perna muito curta e podemos estar a pisar um chão de vidro muito ténue que pode partir muito facilmente, pois não existem alicerces ou pilares que possam sustentar essas criações. Um grande tema, que embora possa parecer calmo, é uma verdadeira "pedra" neste álbum.




Mais um tema de crítica social neste álbum. "Empire Of Shame", é um tema que fala na conquista, roubo, usurpação de terras, de bens e ainda escravidão. Sabendo que Angelus Apatrida é uma banda espanhola, conseguimos identificar-nos perfeitamente com aquilo que a banda tenta passar, pois como portugueses, também nós nos Descobrimentos fizemos exatamente o mesmo. Portugal era um dos principais comerciantes de escravos e ainda um país que conquistava pelo nome da espada, embora os nossos historiadores tentem romantizar o que se viveu naquele tempo. Um grande tema que ao escutar atentamente fico com a sensação de que a banda foi buscar influências a Iron Maiden, pois "Empire Of Shame" tem uma mensagem semelhante a "Run To The Hills" do célebre álbum "The Number Of The Beast. 




"Into The Well" fecha este álbum homónimo de Angelus Apatrida com chave de ouro, num tema que tem tanto de agressivo como de melódico. "Riffs" brutais que combinam melodia e rapidez alucinantes, uma bateria que também não pára com as suas transições insanas e ainda um baixo com "riffs" bastante rápidos. "Into The Well" é como o próprio nome indica uma viagem rápida para a morte. Este tema, a par de "Childhood's End", é o tema mais melódico de todo o álbum e onde também se encontram várias influências das grandes bandas que impulsionaram o género "Thrash Metal" nos anos 80.






Posso dizer-vos que não estava à espera da agressão que é este álbum. Pesado, cru, visceral, incrivelmente rápido e insano é o que penso deste "Angelus Apatrida". Com uma enorme variedade de "riffs" imensamente rápidos que nos dão constantes injeções de adrenalina, este álbum tem na agressão a palavra de ordem para quem o ouve! Uma bateria com constantes variações de velocidade e intensidade, vários "blast beats" e ainda momentos de "double pedal" brutais, que mais parecem uma metralhadora de fita em que quem está a disparar só vai parar quando as balas acabarem. O baixo também anda completamente revolto com "riffs" extremamente rápidos. Tudo isto aliado também a um registo vocal que por si só é também um aviso de que a agressão está próxima. Angelus Apatrida com o lançamento deste álbum homónimo ganha uma nova dimensão no Heavy Metal actual. Com influências em bandas como Megadeth ou Testament, e ainda uma aproximação a Iron Maiden, os espanhóis consolidam-se como a melhor banda do seu país e uma das melhores da actualidade. Um verdadeiro murro no estômago naqueles que não estão habituados a este tipo de sonoridade e, na minha opinião, este "Angelus Aparida" tem tudo para ser um dos melhores, senão mesmo o melhor álbum do ano.