o blog mais pesado

Final Veredictum: Moonspell - Hermitage

 


O Heremita é aquele que deambula com rumo incerto, o que deixa a sua terra e desbrava pelo desconhecido em busca de novos horizontes e é isso que sinto por parte dos Moonspell ao escutar este álbum.
Se por vezes a mudança é positiva e dá oportunidade a que novas sonoridades floresçam, neste caso a intenção foi boa mas ficou um pouco aquém do esperado.

Os Moonspell nestes três últimos álbuns têm retratado a decadência da humanidade, ora então reparem Extinct, a extinção do homem, o caminho para o fim da existência, 1755 um belíssimo retrato de uma das maiores catástrofes que assolou Portugal enquanto nação e que nos colocou verdadeiramente à prova e agora Hermitage uma passagem sobre o desvendar do desconhecido, a desolação itinerante de vaguear sem rumo.

No ano de 1989, sob a hégide de Morbid God, surgia na Brandoa uma nova banda, que se viria a tornar na maior banda portuguesa de Heavy Metal de todos os tempos, Moonspell, o maior baluarte que temos no Heavy Metal nacional.
Estamos a falar de uma banda que não tem nada a provar e que mesmo assim arrisca sem medos e eu valorizo isso.

Ao longo da sua carreira os Moonspell foram criando uma vasta e diversa discografia compondo verdadeiros álbuns clássicos da música nacional como é o caso de Wolfheart, Irreligious e Memorial deambulando por uma sonoridade alternativa em álbuns como The Butterfly Effect, explorando a sua lingua mãe em 1755 e invocando o negrume do Black Metal em Under Satanae, são vastas as paisagens sonoras que os Moonspell já pisaram ao longo da sua carreira...
Actualmente a banda é composta pelo vocalista Fernando Ribeiro, Pedro Paixão nos teclados, Ricardo Amorim na guitarra, Aires Pereira no baixo e Hugo Ribeiro na bateria


Em Hermitage existem passos dados na direção certa e outros que simplesmente não resultam.
Começamos o álbum com "The Greater Good", uma faixa muito bem conseguida e que nos arrebata os ouvidos, tempestuosa e com um efeito murro no estômago que nos chega até ao âmago.
 

Segue-se "Common Prayers" uma faixa que tem um instrumental demasiado pesado para o estilo vocal que Fernando Ribeiro canta nesta música e apesar de termos alguns guturais pelo meio torna-se uma faixa vã e que deixa bastante a desejar.


"All Or Nothing é o primeiro vislumbre de que Pink Floyd foi uma forte inspiração na conceção deste registo e eu apoio a banda explorar este departamento mais melódico e elaborado e em termos instrumentais não tenho nada a dizer, é sublime, mas a voz mais uma vez não me parece que se adeque tão bem assim e nota-se que é um registo diferente ao que a banda está habituada e isso nota-se no resultado final.
Apesar disso consigo encontrar algumas secções de que gostei nesta música, os solos de guitarra, a própria bateria, alguns momentos vocais, mas existe uma desconexão entre voz e instrumental que para mim não se conjugam da melhor forma e é pena pois sente-se que Fernando Ribeiro caminha vocalmente sob areias movediças neste novo estilo que utiliza.


"Hermitage", a faixa-titulo é a minha música favorita de todo o álbum, sem dúvida alguma é a música que mais vai beber à sonoridade característica de Moonspell, refrões apoteóticos e cativantes, arranjos orquestrais e um peso divinal nos riffs de guitarra, a voz ríspida de Fernando Ribeiro a entrar a rasgar e a cativar a audição após uma passagem mais adágio na música anterior.


Após uma faixa com o peso de "Hermitage" fiquei novamente desiludido ao ouvir "Entitlement", uma faixa que em termos de composição é interessante e tem uma instrumentalização bem conseguida, mas em termos vocais deixa-me novamente refém do pensamento das faixas mais calmas deste álbum de que ao tentarem explorar novos territórios os Moonspell têm uma identidade tão própria que aqui perde-se. É uma má música? Não, de todo mas falta-lhe a pujança a que a banda nos tem vindo a habituar e se aqui o peso ficou para trás, a melodia, pelo menos está bem presente.


"Solitarian" entra de mansinho com uma guitarra que repete o mesmo riff demasiadas vezes e temos alguma orquestralidade que ajuda a criar atmosfera, nota-se mais uma vez que o objétivo dos Moonspell com "Hermitage" foi criarem música para ser degustada como um bom vinho e não para ser emburcada de penalti como uma bela de uma cerveja e não vejo mal nisso mas aqui o instrumental é bem conseguido e nota-se que estamos a falar de uma banda que está a sair da sua zona de conforto, ao pisar terras desconhecidas em termos da sonoridade que nos apresenta, a solidão.


"The Hermit Saints" já pelo contrário é outra das faixas que para mim se destacou neste álbum e que me captou logo na primeira audição, algo que apenas a faixa-titulo teve a capacidade de fazer.
É uma música que tem um coro angelical que se conjuga tanto com a voz tanto com a secção instrumental, não é muito mais pesada que "Common Prayers", mas a meu ver a composição da música foi muito melhor conseguida é cativante e acredito que ao vivo irá resultar bastante bem.


Este é um álbum altamente contemplativo em que a banda se debruça sobre o caminhar pelo desconhecido e com destino incerto.
"Apophthegmata", deambula por entre riffs melódicos e uma bateria com um compasso lento, Fernando Ribeiro invoca os seus vocais melódicos e limpos e posso vos dizer que nesta música resultam bem, pois o instrumental e a voz estão sintonizados e quando irrompem os guturais também a secção instrumental passa a ter um ritmo mais acelerado, sente-se mesmo um crescendo na música e a guitarra de Pedro Amorim entrega-nos riffs de excelência, o teclado de Pedro Paixão ajuda a transmitir uma atmosfera mais soturna e a música apesar de começar lentamente termina de forma exuberante e que me surpreendeu, algo que poucas músicas neste álbum conseguiram fazer.


Without Rule é uma música que me provoca mixed feelings, não gostei do início, mas a segunda parte da música onde existe um pouco mais de peso na música conseguiu despertar o meu interesse.
Os sintetizadores estão bem presentes nesta música e existe aqui uma atmosfera envolvente interessante graças à secção instrumental que é bastante diversificada e que mais uma vez se volta a mostrar o ponto mais forte deste álbum.


"City Quitter" é uma faixa instrumental em piano que encerra o álbum.
Bastante orquestral e revestida de uma certa densidade sonora, é diferente, original e bastante catártica, reflexiva e expansiva, permite-nos refletir sobre o que acabámos de ouvir e deixa-nos a deambular como o heremita com rumo incerto por paisagens sonoras abstratas.
 



Por último e apesar de não integrar a edição normal do álbum, os Moonspell fizeram uma cover de "Darkness In Paradise dos Candlemass, originalmente presente no álbum "Ancient Dreams", editado em 1988. 
A música original tem uma sonoridade completamente diferente desta versão de Moonspell que apesar de ser uma cover interessante não chega perto da música original que é muito superior a esta versão feita pelos Moonspell.