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Final Veredictum: SOTZ’ - Popol Vuh


Os Sotz’ são um coletivo do Porto constituído por quatro elementos a nível de formação base, Dan Vesca nas vozes (ex Final Mercy e Colosso ‘ao vivo’), João Rocha na guitarra (Lyfordeath ex The Blood of Tyrants e Saephe), Pedro Magalhães (Saephe) na outra guitarra, e Emanuel Ribeiro no baixo (Lyfordeath), oscilando a colaboração na bateria entre o estúdio e o ‘ao vivo’, que neste registo ‘Popol Vuh’, conta com a participação de Luís Moreira (Nihility, Lyfordeath, e In Vein). Uma equipa de pesos pesados, portanto, no circuito do Metal nacional.

O nome do projeto, Sotz’, do termo original Zotz, deriva de uma abordagem temática e visual escolhida pelo grupo, associada diretamente à cultura Maia, o qual significa (livremente) morcego e tem para a mesma uma correlação direta com noite, morte e sacrifício. ‘Popol Vuh’ o nome que intitula o seu mais recente trabalho, lançado a 2 de Novembro do ano passado (2020), significa livro da Comunidade, livro de Conselho, ou livro da População, o qual continha os textos sagrados que descrevem a população K’iche que existiu muito antes da invasão e ‘conquista’ do México pelos espanhóis, (cujos relatos mais antigos provêm de 22 Abril 1519 – a chegada das primeiras embarcações).

Os Sotz’ são considerados pela imprensa em geral como uma banda Death Metal, se os pudermos resumir a um só subgénero de Metal, o qual não deixa de fazer sentido, principalmente neste disco. Todavia, para mim, existe aqui uma mistura de muitos mais subgéneros, que embora não o resuma a uma estética sonora única e original, o caracteriza num campo muito mais exclusivo do que foi até então descrito pelas várias existentes reviews que li, incluindo momentos de uma maior semelhança com a New Wave of Black Metal atual do que com qualquer Death Metal. Assunto este, sobre o qual apenas quero referir uma única comparação e não relacionada com a sonoridade Death ou Black Metal, mas no bom sentido, penso. 

Pessoalmente, denotei neste álbum, em termos de groove e ritmo, um maior afastamento dos Sotz’ com a New Wave of American Metal, muito dentro do que uns Lamb of God praticavam no inicio da sua carreira, (embora pense que nada intencional por parte deles), para algo não tão rapidamente constante e mais propicio ao mosh, como havia sido praticado pelos Sotz’ até então, o qual em certos e determinados momentos no álbum, fazem-no resultar bem melhor em termos de viagem sonora, na sua intenção em nos transportar no tempo para o meio de uma aldeia K’iche (Maia), centrada numa anciã e densa selva Mexicana, momentos antes da queda e decadência desta civilização em especifico. 

O qual nos cai sonoramente como uma tempestade a abater-se sobre as nossas cabeças logo ao primeiro tema, ’Oracles’, logo a seguir à faixa introdutória ‘Cenote’, assim que as primeiras linhas de guitarra distorcida se impõem.

Se utilizarmos clichés artísticos e compararmos ‘Popol Vuh’ à magistral obra cinematográfica ‘Apocalypto’ de Mel Gibson, talvez não surja como a banda sonora indicada para o acompanhar visualmente, mas curiosamente, a melhor para o imaginarmos sem o vermos, se me faço entender. Ou seja, existe em ‘Popol Vuh’ uma necessidade de acompanharmos a sua narrativa para melhor o percebermos, que tal como o filme anteriormente mencionado não faria tanto sentido se visto apenas parcialmente, ‘Popol Vuh’ também não resulta tão bem se escutado aleatoriamente ou por faixas individuais, quanto se escutado pela ordem sugerida.

Isto, claro, em termos narrativos, pois existem temas no álbum que resultam muito bem quando escutados por si próprios, como ‘The Return of Kukulkan’ e ‘Popol Vuh’, por exemplo. Contudo, e infelizmente, (exceto os dois temas acima referidos), os restantes não resultam tão bem isolados quanto escutados ordenadamente como um todo, (na minha opinião), e talvez este seja o único contraponto em todo o registo, no qual a intenção da banda e o som praticado ainda colidem na promessa de uma evolução sonora ainda mais apetecível que aqui a excelentemente já apresentada.

Para finalizar, ao contrário dos anteriores registos de Sotz’, (o EP ‘Tazk’ Sotz’ ’’ e o single antecessor a este registo, ‘Baak’’), a associação Maia era até então, somente salientada pela banda, quase exclusivamente, através da sua imagem, e praticamente quase nada em termos da sua sonoridade. Aqui, existem laivos mais afirmados desta intenção, os quais, penso que resultam em pleno, e urgem em continuar a ser explorados e melhor balanceados, pois ao contrário da cultura Maia, apropriada aqui pelos Sotz’, que está imensamente associada com o seu declínio, ‘Popol Vuh’ é, felizmente, a promessa de um longo e promissor futuro para os Sotz’, o qual irei continuar a acompanhar atentamente e, garantidamente, com mais interesse ainda.



‘Popol Vuh’ ainda se encontra disponível para compra no formato CD (digipack) e digital, através do bancamp oficial da banda, https://sotzofficial.bandcamp.com/album/popol-vuh, assim como disponível para streaming através de Spotify, https://open.spotify.com/album/5TOxxzEe8OUnHSTfV0yLjJ?si=ONfhXYeATpONqN7qAcp3tg