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Xplore The Classic: Type O Negative - October Rust

 



Para muitos falar de "Doom Metal" pode ser um autêntico sacrilégio, mas para outros é um estilo de vida, uma identidade, ou até mesmo uma inspiração. Quando escrevo é um dos principais géneros que ouço, pois acabo por procurar o lado mais melancólico, o lado mais calmo e o mais melodramático da música pesada. É assim que começo a "review" de um álbum de uma banda que para mim é um marco dentro deste género e uma banda que, permitam-me dizê-lo, revolucionou o "Doom" aliando-o ao "Gótico", dando uma nova roupagem e toda uma nova cinemática para aos ouvintes deste género. Falo de Type O Negative e vamos analisar uma das suas pérolas, "October Rust".

Type O Negative foi uma banda criada em Nova Iorque no ano de 1989. "October Rust" foi lançado a 20.08.1996 e editado pela Roadrunner Records. O álbum é composto por 15 temas dos quais dois são apresentações e agradecimentos. No ano de 1996, aquando do lançamento, a banda era composta por John Silver nos teclados, Kenny Hickey na guitarra e nos "back vocals" e ainda o lendário Peter Steele no baixo e na voz. "October Rust" foi o primeiro álbum de Johnny Kelly na bateria que havia substituído Sal Abruscato. 




Começamos por "Bad Ground". Nada a dizer, apenas ouvimos uma interferência causada por um amplificador ou por uma coluna ligada. Depois dos instrumentos estarem ligados temos "Are We On". Uma faixa onde temos a banda a apresentar este "October Rust" e a promovê-lo.


A verdadeira acção em "October Rust" começa com "Love You To Death". Um som de violino dá lugar às teclas e entra a voz de Peter Steele. Quase como um poeta, o vocalista utiliza o seu tom grave e profundo para dar poder a este tema. No entanto, os instrumentos distorcem assim que Peter aumenta o tom e passamos a ter "riffs" que acompanham uma bateria em tom de melodia melancólica. Um tema bastante profundo, cujo videoclip reflete bem o que se passava nos anos 90. O Gótico estava presente e fazia parte da Cultura Pop quer em filmes, desenhos animados, séries e até na música.




"Be My Druidess" arranca num tom mais distorcido. Os "riffs" iniciais são bem mais pesados do que no tema anterior. A melodia começa assim que surgem os primeiros versos do tema. Type O Negative foi sempre uma banda com uma cinemática brutal e todas as músicas da banda bem que podiam aparecer em filmes ou até séries. "Be My Druidess" é um tema com um lado bastante erótico. Os graves de Peter Steele dão todo um alento à mensagem do tema. E depois com um instrumental mais calmo, arrastado e melancólico, "Be My Druidess" é um tema que pode ser escutado a dois e depois... depois usem a vossa imaginação e deixem-se levar...




Continuamos este "October Rust" com "Green Man". Ouvimos o canto dos pássaros e as folhas a arrastarem-se com o vento. Este é um tema que tem um tanto ou quanto de paganismo. Neste tema podemos ver a referência ao Homem Verde que para os Celtas era um símbolo associado ao renascimento e por consequente à vida, mas neste tema temos exactamente o oposto, pois a banda fala na decadência dos ciclos até ao fim da vida, claro, a morte. Mais uma vez as vozes de Peter e Kenny combinadas criam uma aliança perfeita. Antes de entrar a guitarra em cena ouvimos umas linhas de baixo incrivelmente deliciosas. Assim que ouvimos as folhas a levantarem voo com o vento, ouvimos os primeiros "Riffs" na guitarra que transmitem calma e serenidade. A partir do momento em que a bateria entra em cena apercebemo-nos que juntamente com o baixo de Peter se tornam num instrumento só. A guitarra de Kenny tem uns momentos em que aparece distorcida, mas nem assim deixa a melodia de lado. Um tema que acaba por ser uma das pérolas deste "October Rust".



 


"Red Water (Christmas Mourning)" foi um dos primeiros temas que eu ouvi desta banda. Este é mesmo daqueles que “primeiro estranha-se e depois entranha-se”. Muito bom! Um tema em que vemos os dois estilos que fizeram desta uma das bandas mais icónicas de sempre dentro do estilo e uma das principais referências do género. Melancólica, arrastada, depressiva, este pode bem ser um tema para se ouvir e relaxar em dias de chuva. Ouvimos um som de sopro a iniciar o tema para dar lugar a uma distorção na guitarra que culmina num baixo e numa bateria mais arrastados e pesados. O teclado de John Silver também é algo a destacar pois a sua melodia contrasta em parte com o baixo e com a bateria. E mais uma vez as variações vocais de Peter arrastam a composição do tema para um abismo depressivo que acaba de uma forma abrupta. Será esta a banda sonora perfeita para os dias de Natal? 




Depois da melancolia presente em "Red Water (Christmas Mourning)" a banda passa agora para um som mais espevitado com "My Girlfriend's Girlfriend". Neste tema podemos ouvir representada aquela velha máxima de "Sex, drugs and rock'n roll". Um videoclip meio hippie, em que podemos ver claramente as influências dos anos 60 e 70 nos efeitos caleidoscópicos. Com uma introdução de teclado divinal, a banda transita para "riffs" mais distorcidos na guitarra e no baixo. A bateria, também ela com algumas variações de intensidade, e mais uma vez a voz de Peter Steele a ser o centro das atenções. Com o seu timbre grave e intenso, a letra desta "My Girlfriend's Girlfriend" aliada ao videoclip carregam um lado mais sexual. Este é talvez um dos temas mais espevitados de todo este "October Rust". 





Depois de um lado mais uplifted, a banda regressa à melancolia com "Die With Me". O tom mais espaçado e mais grave de Peter volta a comandar o tema e com ele ouvimos os acordes de uma guitarra acústica. À medida que o som evolui vem a distorção dos instrumentos e o som acústico transita para um som elétrico e os "riffs" apenas distorcem a melancolia da composição. A transição de vozes entre Kenny e Peter é algo absolutamente incrível. A bateria acompanha também o tema sendo ela também uma melodia pura. Este é um dos temas deste "October Rust" em que o baixo também aparece por entre os momentos de distorção e traz toda a penumbra da melancolia. Com uma sonoridade sinistra e um tanto ou quanto pervertida, "Die With Me" no entanto parece ser uma jura de amor, já que dá a entender que o desejo ardente não desvanece mesmo após a perda da outra parte que completa o nosso eu. E a vontade dos Type O Negative é que essa mesma parte se deite connosco e adormeça para a eternidade. 





"Burnt Flowers Fallen" parece uma sequela de "Die With Me”. Com um compasso menos arrastado, a banda no início distorce e até temos uns "riffs" mais mexidos que no tema anterior, contudo a banda vai desacelerando e desacelerando até chegar ao fim do tema em que a distorção e o peso dão um último ar de sua graça. Em "Burnt Flowers Fallen" John Silver assume o comando com as teclas. Estas assemelham-se ao som de um órgão numa espécie de cerimónia macabra. No entanto, assim que o tema desacelera para a segunda parte, a letra assume um tom mais luminoso e a banda distorce para um final em que a segunda parte da letra é cantada novamente num tom límpido e arrastado. Como tinha dito no início, "Burnt Flowers Fallen" é a sequela do tema anterior em que pela letra vemos que tudo era bonito numa relação, até que um dissabor acabou com tudo.




Quando ouvimos o nome Baco associamos logo ao Deus romano do vinho. "In Praise Of Bacchus” é a música que se segue neste "Octocber Rust" e podemos dizer que neste tema a banda bebe para esquecer. Será? Ou será apenas um acto de adoração a um deus pagão? Mais uma vez a melancolia está presente. Num tema em que a distorção aparece depois dos primeiros versos, os "riffs" aparecem numa melodia profunda e em que a voz de Peter aparece um pouco distorcida também. Na bateria Johnny mais uma vez marca o compasso e esta mistura-se mais uma vez com o baixo parecendo que ouvimos um instrumento híbrido completamente sincronizado. John Silver também consolida a sua posição nos teclados dando mais uma vez a luz a esta melodia melancólica.



 


"Cinnamon Girl" é talvez o tema mais pesado de todo o álbum! Quando digo isto não me refiro à letra, mas à sua composição. "Riffs" mais pesados e melódicos quer na guitarra quer no baixo. A própria voz de Peter tem variações entre os tons mais limpos e mais graves que são absolutamente incríveis. As segundas vozes de Kenny contrastam também com os graves de Peter e parecem acompanhar a guitarra. Nas teclas de John Silver a técnica utilizada faz-se notar por entres os momentos mais graves desta "Cinnamon Girl". Um tema que fala no amor e no sonho de se encontrar alguém que esteja connosco em tudo o que nós fazemos. Alguém que goste mesmo de nós independentemente de tudo, ou seja, aquela pessoa que gosta de nós pelo que somos e não por aquilo que temos.





"The Glorious Liberation Of The People's Technocratic Republic Of Vinnland By The Combined Forces Of The United Territories Of Europa", pode parecer um nome muito grande para um tema e realmente o é, mas na verdade vemos apenas uma espécie de despedida anunciada para este "October Rust".





Senhoras e Senhores! O melhor tema deste "October Rust" é este que agora vos falo, "Wolfmoon (Including Zoanthropic Paranoia)"! Melódico, intenso, profundo, pesado e apaixonante. A primeira vez que ouvi este tema no YouTube foi através de um "fan made video", que misturava esta letra com cenas do filme "Submundo". Rapidamente dei por mim a pesquisar a banda sonora do filme. No entanto, fiquei desiludido pois esta pérola não consta da banda sonora. Posso-vos dizer que praguejei imenso, contudo aconselho-vos a verem esse filme, pois não se vão arrepender. Quanto ao tema em si, a voz de Peter, os teclados, o baixo, a guitarra, os coros são uma combinação perfeita de um tema que nos enfeitiça e prende do início ao fim. Com uma letra virada para o erotismo e para o feminismo, a banda fala-nos de uma criatura infame que tem a sede pelo sangue, mas que não resiste à prata. Type O Negative, com esta "Wolfmoon (Including Zoanthropic Paranoia)", parece querer embarcar na maldição do Lobisomem...





O tema que fecha este "October Rust" é "Haunted". Mais uma vez sentimos o vazio, a solidão e a melancolia deste álbum. O tema abre com um teclado solitário de John Silver, que vai preparando a distorção das guitarras e do baixo. "Breathe, slow-down e repeat" parecem ser as palavras de ordem deste tema chamado "Haunted". A bateria de Johnny Kelly também desacelera a composição deste tema. A cada pancada parece que este instrumento segue impiedosamente os graves de Peter Steele que dão o último toque de génio a este grande, mas grande tema! Temos neste tema uma declamação profunda da última parte da letra que arrebata qualquer um. Mais uma vez a banda fala na solidão e de como nós podemos ser assombrados pela presença de alguém que já nos fez mal ou foi demasiado tóxico connosco. Alguém que se esconde na imensa escuridão do seu medo e que lá se sente confortável. Na letra, no entanto, subentende-se um ódio à manhã e à luz que ela traz. "Haunted" fecha este "October Rust" na escuridão e na imensidão do gótico.






A banda termina este "October Rust" com um agradecimento a todos os fãs e àqueles que adquiriram este álbum que é o quarto de originais de Type O Negative.







"October Rust", é como o próprio nome indica, um álbum para se ouvir em dias de chuva e explorar o nosso lado mais melancólico e solitário. Type O Negative inunda-nos com o peso aliado à solidão e melancolias devastadoras. Um álbum que explora o lado outonal e em que se sente que a luz brilhante do Verão se começa a desfazer com as cores e as chuvas do Outono. Nesta estação que significa a transição da luz para a sombra e em que há a transformação de tudo o que é vida e morte. Vemos as árvores a despirem-se mostrando figuras fantasmagóricas, sentimos o calor a brotar da terra tal como se esta estivesse a perder a vida e ainda a linha divisionária entre os mundos fica mais ténue. Em "October Rust" vemos isso mesmo. "Riffs" intensos e profundamente arrastados que mais parecem alguém que está num sofrimento duradouro. Uma bateria que tem variações imensamente pesadas e monótonas e ainda os teclados que dão uma melodia fantasmagórica a quem ouve. Type O Negative é aquela banda que desapareceu assim que o seu vocalista partiu para outro mundo. Peter Steele era um músico com uma voz e um grave inconfundíveis. Uma presença única e um génio ao comando de uma banda que marcou profundamente a década de 90 do século passado. Por tudo isto, Type O Negative é uma banda que merece ter um lugar de destaque em qualquer coleção de música pesada.