o blog mais pesado

Final Veredictum: Beartooth - Below

 


Os Beartooth são uma banda de Metalcore com fortes influências de Hardcore, Punk e Hard Rock. Formados em 2012 em Columbus, Ohio. 
A banda surgiu quando Caleb Shomo o vocalista, multi instrumentalista, compositor e muito honestamente, a alma dos Beartooth, ainda se encontrava nos Attack Attack!.
Originalmente Noise seria apenas um pequeno hobby para Caleb com o intuito de gravar apenas umas músicas e nada mais que isso, porém tudo mudou quando Caleb saiu dos Attack Attack! e aí Noise não seria apenas barulho de fundo mas ressurgiria como Beartooth.
A banda fez a sua estreia com o EP "Sick", um ano depois da sua formação, que viria a ser sucedido pelo incrível "Disgusting", o primeiro longa duração da banda lançado em 2014. 
"Disgusting" foi o álbum que me introduziu aos Beartooth, posso dizer-vos que a primeira música que ouvi foi a "Beaten In Lips" e conquistaram-me logo pela sua atitude Punk, agressividade vocal e garra que demonstravam enquanto banda que estava a dar os seus primeiros passos.
"The Lines" ficou no ouvido graças à sua melodia e letra na qual me revejo bastante, mas foi a cáustica "I Have A Problem" que me fez perceber o diamante em bruto que é esta banda e depois foi mesmo uma questão de ouvir o álbum de uma ponta à outra e ficar completamente agarrado.
"Agressive" foi o sucessor de Disgusting, nota-se que a banda pretendia agarrar novos públicos e experimentar coisas novas e o mesmo fez-se sentir em "Disease" na mesma medida e eu vou ser-vos muito sincero, pessoalmente estes dois álbuns além da faixa titulo e uma ou outra música passaram-me completamente ao lado.
Os Beartooth já não tinham a sonoridade que me fez ficar agarrado e isso foi meio caminho andado para me afastar um pouco dos seus lançamentos, mas isso mudou assim que ouvi o primeiro single de "Below", "Devastation" que me deixou boquiaberto, e o meu primeiro pensamento foi, os Beartooth voltaram finalmente!
Caleb Shomo, o vocalista da banda prometeu em entrevista com diversos media especializados como é o caso da Loudwire e da Rock Sound, que "Below" seria um álbum muito mais negro do que o anterior, algo que era algo muito desejado pelos fãs da banda desde os tempos de "Disgusting", aquele que é considerado por muitos e inclusive por mim, como o melhor álbum que a banda já lançou, agora a questão é será que "Below" tem o que é preciso para rivalizar com "Disgusting"?


"Below" é a música que abre o álbum e notam-se logo as fortes influências de Hard Rock e Punk no Metalcore efusivo dos Beartooth, já por várias vezes Caleb Shomo referiu que Motorhead e a figura do eterno Lemmy Kilmister era uma grande referência para si e para os Beartooth e isso nota-se.
Caleb apresenta-se com vocais mais ríspidos do que nos dois álbuns anteriores, os riffs de guitarra são contagiantes e a bateria é ritmada, é uma música que tal como a capa do álbum parece que vamos a descer de mota até às profundezas, regressando a um lugar que é familiar para quem tem acompanhado a banda desde a sua origem e é bom sentir que regressamos a esta sonoridade que deixou tantas saudades.


"Devastation" como já referi foi o primeiro single a ser divulgado pela banda e logo no início levamos logo uma carga de porrada ao estilo "Disgusting".
Os vocais rispidos com alguns elementos guturais arrepiaram-me, mas foi a bateria com blast beats ao estilo Death Metal que me fizeram perceber o grau de agressividade que os Beartooth estavam dispostos a oferecer-nos neste lançamento.
As guitarras são frenéticas e a meio da música temos um momento de suspense e assim que ouvimos Caleb gritar "Drop That Shit" já sabemos que vem aí um breakdown daqueles, mas é quando somos realmente atingidos que sentimos com todo o fervor o poderio desta música, repleta de energia renovada, agressividade e garra, resta-me apenas dizer, sejam bem vindos de volta Beartooth!


"The Past Is Dead" mostra-nos o lado mais melódico dos Beartooth, mas mesmo assim consegue manter o balanço perfeito entre peso e melodia, tal como todas as músicas deviam ser.
É uma música contagiante e com uma letra muito introspectiva, o refrão é contagiante e faz-nos pensar em todos os problemas que fazem parte do nosso passado, mas que por vezes regressam para nos atormentar e aí é necessário aceitarmos que o passado é isso mesmo, passado, e seguir em frente e é nesta realização que somos atingidos por um portento breakdown " I can't accept that the past is dead!".


"Fed Up" é a música perfeita para ouvirmos quando estamos fartos de lidar com os stresses do dia a dia, quando vemos colegas no trabalho a encostarem-se e nós a trabalhar, quando temos de usar máscara e levarmos vinte e quatro horas com a mesma estupidificação das massas através dos media que só nos mostram o que lhes interessa, quando lidamos com as injustiças e nada podemos fazer, vá Luís respira...
Sim é uma música com uma enorme pujança e perfeita para aliviar a tensão, repleta de peso e agressividade, os Beartooth vieram com tudo e esta música é mesmo um destilar de raiva, com fortes influências Punk, não apenas na atitude, mas também na instrumentalização e construção musical.


E se "Fed Up" já nos ia ao âmago em "Dominate" somos completamente esventrados, que power!
Com riffs avassaladores derramados a torto e a direito e com a prestação de Caleb Shomo a mostrar uma superioridade em relação às prestações nos álbuns anteriores, são músicas como estas que mostram o poderio que esta banda possui e eu senti aqui algumas influências de Pantera no groove que os Beartooth trazem.


"No Return" começa com um gutural cavernoso que mostra que o vocal coaching que Caleb teve fez maravilhas pela sua voz.
O peso aliado à melodia novamente a ser doseado de forma correta, o refrão é contagiante e antémico e mostra, que por vezes, sentimos que não sabemos como voltar a sermos nós mesmos, quando ficamos assoberbados com tudo o que nos rodeia e ficamos emocionalmente esgotados.
Os breakdowns voltam novamente a mostrar-nos este ponto de desespero que os Beartooth querem transmitir.



"Phantom Pain" é mais uma música devastadora que mantém um ritmo frenético.
Adoro as partes em que os Beartooth gravam inclusive os suspiros de forma a dar mais autenticidade à sua música e isto numa música que fala sobre desespero faz todo a diferença, torna a música mais real. 
E quando pensamos que "Phantom Pain" terminou, os Beartooth ainda nos espetam com mais um portento breakdown e deixam o feedback das guitarras ressoar, tão bom!


Skin é a música mais radio friendly deste "Below" e vai beber muito ao que os Beartooth fizeram em "Disease".
O refrão é dos mais contagiantes de todo o álbum, Caleb é um mestre na arte de criar refrões que nos ficam na cabeça e este é apenas mais um grande exemplo.
Apesar de ser radio friendly não se enganem, é uma música com algum peso, mas aqui o que sobressai sem dúvida é a melodia e a energia contagiante.
A letra fala como por vezes nos sentimos desconfortáveis na nossa própria pele e como começamos a acumular coisas no nosso interior, sem sabermos com quem podemos desabafar, até ao ponto de colapso, e o pior é que sentimos que só nós é que sentimos esta dor, no entanto é importante lembrarmo-nos que a depressão é uma doença real e que devemos procurar ajuda e como nós há tantas mais pessoas que sofrem o mesmo mal.


Depois de uma música introspetiva e pessoal como "Skin" faz todo o sentido suceder-se-lhe uma música como "Hell Of It" em que os Beartooth mostram aquela atitude de já não me importo com nada, porque o problema é que quando estamos num estado depressivo a vida começa a perder significado e tudo parece vão, nós vamos afundando-nos na nossa mágoa e acabamos por fazer as coisas sem um propósito, só mesmo para não estarmos quietos enfiados num quarto com tudo apagado e com as cortinas para baixo.
A música tem um ritmo frenético e que para mim tem um efeito bastante catártico, pois quando nos vemos numa situação destas, apenas vemos as horas a passar diante de nós e sentimo-nos uns inúteis.
O breakdown tem alguma dissonância que conjuntamente com a letra faz todo o sentido e a construção musical, a meu ver está muito bem conseguida.


"I Won't Give It Up" é uma música assumidamente Punk, e que faz todo o sentido no seguimento do álbum, pois chega uma altura em que nos queremos erguer e procurar forças para continuarmos e esta música fala disso mesmo, procurarmos motivos para nos mantermos à tona sem nos deixarmos ir abaixo.
Gosto imenso da atitude entregue pelos Beartooth nesta música e pela forma, como de forma contagiante conseguiram trazer alguma força a quem está na mó de baixo.
Instrumentalmente o facto de ser uma música Punk e mesmo assim terem conseguido incluir alguns breakdowns pelo meio é excelente, fez-me lembrar um pouco A Day To Remembrer até.


"The Answer" é o que todos procuramos quando estamos sem saber para onde nos havemos de voltar, procuramos por uma resposta mágica que acabe com todos os nossos problemas, sentimo-nos desgastados e à procura de uma resposta e ela parece que nunca chega.
Nota-se a urgência evocada pelos Beartooth, não só na voz de Caleb mas em toda a construção musical que tem um estilo muito uplifting, mas no entanto é uma música onde é repetida inúmeras vezes a frase "I'm crumbling under the pressure", porque o problema é que por vezes as pessoas não entendem que ao tentar-nos ajudar estão a colocar imensa pressão em cima de nós.
Frases como, "Vai ficar tudo bem", ou "Não estejas triste, isso passa..." em nada ajudam não é algo que nós possamos simplesmente deixar de sentir, era bom que realmente assim fosse, mas não é.


O álbum encerra com "The Last Riff" uma música instrumental em que simplesmente ouvimos as guitarras desabafarem com fervor e uma grande dose de atitude e mestria, a bateria acompanha com uma grande dose de ritmo e técnica.
É uma música que nos permite refletir e absorver tudo o que foi dito neste álbum tão pessoal, em que os Beartooth simplesmente desabafaram com os fãs sobre o que sentiam e realmente abriram-se para um problema que é mais atual que nunca.
The Last Riff é o ponto final num álbum que para mim marcou-me imenso e que vem garantidamente para a coleção do Valente, juntar-se a "Disgusting".