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Final Veredictum: Iron Maiden - Senjutsu

 


No mundo da música pesada há gostos para todos os géneros. No entanto, existem bandas que independentemente dos nossos géneros favoritos, atingiram um estatuto que deixa qualquer fã rendido ao seu percurso e à sua história. Tornando-se em autênticas bandas de culto, estas influenciaram e continuam a influenciar bandas que daqui a uns anos irão claramente atingir esse estatuto.

Com um percurso na música de quase 50 anos, hoje apresentamos o mais recente trabalho dos monstros Iron Maiden, "Senjutsu". A banda dispensa apresentações. São claramente um dos maiores nomes da música pesada e um dos maiores bastiões do "New Wave Of British Heavy Metal". Na bagagem a banda conta com álbuns como "The Number Of The Beast", "Piece Of Mind", "Powerslave" ou "Killers", autênticos marcos da música pesada. Ao todo a banda já lançou 17 álbuns de originais. 

Os Iron Maiden foram formados em 1975 pelo baixista Steve Harris e actualmente a banda é composta por Dave Murray na guitarra, Adrian Smith na guitarra e "back vocals", Nicko Mcbrain na bateria, Janick Gers na guitarra e ainda o monstro Bruce Dickinson na voz.




Assim que começamos a ouvir o primeiro tema, somos automaticamente alertados para o que aí vem. "Senjutsu" é o tema que dá nome ao álbum. Antes de ouvirmos os primeiros riffs, as pancadas na bateria remontam-nos para um filme de artes marciais. O som que a banda faz parece anunciar um álbum bélico com este tema. "Riffs" muito pesados, mas também muito melódicos contrastam com um baixo que apresenta "riffs" mais pesados do que as três guitarras. A bateria também ela marca o compasso com as pancadas arrastadas que mais parecem soldados a marchar. Quanto à voz de Bruce Dickinson, não há nada a acrescentar. Um autêntico vinho do Porto que melhora com a idade. Um tema com dois solos bastante melodiosos e harmoniosos aliados a um som de teclas também ele melodioso que dá um certo ar sinfónico ao tema. Um tema que tem o cunho de Iron Maiden, pois é algo que nos faz lembrar os clássicos da banda. Após terminarmos a audição deste tema apercebemo-nos aos poucos que este "Senjutsu" é um álbum que vai ocupar um lugar especial numa coleção!



 

 

Quando foi apresentado no dia 15.07.2021, fiquei completamente abismado! Pensei mesmo que estava a sonhar! Já tinha ouvido uns zunzuns de que Iron Maiden se preparava para lançar material novo, só nunca pensei que este material pudesse ser um novo álbum. "The Writing On The Wall" é de longe um dos melhores temas deste álbum, se não mesmo o melhor. Não altero absolutamente nada do que disse quando escrevi o "Track-Attack" para o Not'Abaixo. Um acorde sublime numa viola elétrico-acústica inicia o tema, que transita para uns "riffs" mais distorcidos e temos aquela sensação de sermos esmagados assim que o baixo entra em cena! Linhas pesadas e viscerais imperam no instrumento de Steve Harris. Um bateria com boas transições e ainda um vozeirão assombroso por parte de Bruce Dickinson, fazem desta "The Writing On The Wall" uma verdadeira pedra. Um tema em que vemos algumas influências de Pink Floyd aqui e ali, e que se mostram mais acentuadas no solo. Um tema que tem um videoclip cheio de "easter eggs". Assim que este inicia, vemos um homem com uma t-shirt um pouco desfeita, mas onde conseguimos ver a imagem do "World Slavery Tour" que ocorreu entre 1984 e 1985. Assim que esse homem cai no chão, vemos um Messias a usar um anel que tem a cabeça do Eddie do álbum "The Book Of Souls", vemos ainda a capa deste álbum num avião que se encontra em destroços. A paisagem completamente desértica mostra-nos uma espécie de construção em que podemos ver escrito "Aces High", tema que faz parte do álbum "Powerslave". Nesta cena conseguimos vislumbrar outro edifício em ruínas que tem o nome de Cart and Horses Pub, situado em Londres, o primeiro local onde a banda actuou. Temos ainda quatro motoqueiros em "choppers" e estas nos depósitos têm 17 riscos, que significam os 17 álbuns que a banda já editou. Os quatro motoqueiros passam por um local onde aparece uma espécie de isqueiro que tem o Eddie do tema "The Twilight Zone", para além de um barril de líquido tóxico onde aparece o Eddie do álbum "A Matter Of Life And Death". Conseguimos ver a Union Jack completamente desfeita, a bandeira que o Eddie Troopper apresenta em palco, sinal do patriotismo da banda. O vídeo mostra também duas latas da cerveja Troopper e ainda o ursinho que Nicko McBrain usa na bateria. Existem vários posters do Eddie espalhados pelo solo desértico e ainda um relógio que marca as 23:58, lembrando o famoso tema "Two Minutes To Midnight". O videoclip continua com os "easter eggs". Vemos uma lápide que tem escrito "No Prayer For The Dying", que é o oitavo álbum de estúdio da banda. No clip aparece um capacete com um crânio que pertence ao álbum "The Final Frontier" de 2010. Na mesma imagem vemos os óculos de aviador e ainda as placas de guerra do Eddie do tema "Aces High" O videoclip mostra como os líderes corruptos se alimentam do dinheiro tornando as pessoas cada vez mais pobres, fazendo com que estas fiquem desnutridas, passem fome e abdiquem dos seus direitos, tudo isto fazendo-os acreditar que é para um bem comum. No final o messias acaba por entrar num local onde a população saudável se diverte enquanto ouve música e vemos este a cair para um local que parece uma lareira verde. Deste local rapidamente brota o Eddie do álbum "Senjutsu" que atira alguém contra uma parede. Este era um homem velho que rejuvenesce, pois se alimentava do elixir da juventude que era extraído de um casal que estava numa espécie de "câmaras amnióticas". O Eddie torna o velho num bode e já numa parede, invoca os quatro Cavaleiros do Apocalipse: a Fome, a Guerra, a Pestilência e a Morte. Estes são na verdade os Eddies dos álbuns "Powerslave ", "Killers", "Somewhere In Time" e ainda "Dance Of Death". No fim, o Eddie do álbum "Senjutsu" acaba por entregar uma maçã ao casal cuja juventude estava a ser sugada e um novo ciclo começa! Nesse carro onde seguem o casal e o Eddie "Senjutsu" vemos no guarda lamas traseiro um número que se encontra em numeração romana e é DCLXVI, claramente uma alusão ao álbum "The Number Of The Beast". Um tema com uma mensagem brutal e bastante actual, já que vivemos num mundo onde os ideais da educação, humildade, respeito pelo próximo e da empatia são coisas do passado e é preciso um reiniciar da humanidade para voltarmos a viver num mundo com esses ideais! 





"Darkest Hour" fala num dos momentos mais negros do século XX, que foi a ocupação Nazi e a Segunda Guerra Mundial, e que mergulhou o chão da Europa em sangue e passados todos estes anos parece que os políticos actuais querem abrir novamente as feridas desse período negro! Este tema fala em como Winston Churchill retirou os soldados aliados de Dunkirk. Naquela altura a Inglaterra esteve perante uma invasão alemã, pois as tropas nazis invadiram e circundaram este ponto estratégico que era Dunkirk. Muitos foram aqueles que morreram: mães que ficaram sem os seus filhos, mulheres que ficaram sem os seus maridos e filhos que ficaram sem os seus pais. Infortúnios dos conflitos bélicos. Iron Maiden com este tema regressa ao peso e ainda um pouco ao passado a fazer lembrar os seus clássicos. Ouvimos o som do mar e de gaivotas, quase que imaginamos as tropas aliadas a desembarcar nas costas da Normandia naquele que ficou conhecido como o Dia D. "Riffs" mais pesados e distorcidos, com um baixo também ele numa rotação mais pesada. Mais uma vez, temos uma bateria a marcar o compasso bélico, com Bruce Dickinson a usar o seu agudo característico e que se tornou numa imagem de marca da banda. Um tema assombroso que tem um dos solos mais brilhantes de todo o álbum. No entanto, ao ouvirmos esta "Darkest Hour" parece que ouvimos um som de despedida, se assim for, por favor peço aos deuses do Heavy Metal que nos permitam acompanhar Iron Maiden no activo por muito mais tempo.





Em "Death Of The Celts" conseguimos ver mais uma vez o esplendor dos ingleses. Uma autêntica sinfonia. Metam o volume no máximo e vão poder ouvir uns acordes esplendorosos de guitarra acústica associados a um baixo sublime! Delicioso! Conseguimos ainda ouvir um som de cordas que antecedem os primeiros passos da bateria de Nicko McBrain. Bruce Dickinson arranca na voz para um registo um pouco mais grave e que vai aumentando à medida que a composição vai avançando! Um tema brutal! Assim que ouvimos a distorção das guitarras, vemos que o tom de Bruce se vai tornando mais ríspido. Um tema com 10 minutos em que temos "riffs" mais ríspidos, mas melódicos, e temos um baixo com umas linhas perfeitamente audíveis. Um deleite para quem aprecia o instrumento mais grave da banda. Solos magistrais e com uma melodia brilhante! Uma bateria aliada a um som de cordas que se vai mantendo ao longo do tema e que faz com que este tenha um lado mais bélico, assim como todo o álbum, não fosse estar na capa um Eddie vestido de Samurai que para os japoneses era o equivalente ao guerreiro nobre da Europa medieval. Ao ouvir "Death Of The Celts" quase que consigo colocar este tema nos clássicos de Maiden, o que é óptimo, pois parece que a banda fez um clássico dos tempos modernos!   









Com quase cinco décadas de carreira e dezassete álbuns editados, Iron Maiden, podia muito bem fazer um álbum apenas para entreter os fãs! Com este historial, com quase duas dezenas de álbuns editados, milhares de quilómetros de estrada, com uma verdadeira legião de fãs por todo o mundo, podiam muito bem terem dado apenas um miminho para nos calarmos, mas a questão é - quando foi lançado o videoclip para "The Writing On The Wall" pensei: "isto tem muita melodia mas pouco peso". A verdade é que quantas mais vezes ouvia mais maravilhado ficava, pois via que a banda tinha utilizado peso para compôr este tema. Depois a banda lançou o álbum e fui ouvir. Fiquei abismado e sem palavras assim que terminei a minha audição a este Senjuts! Parece que a banda pegou em toda a discografia e ao espremer, bem espremidas, as pérolas que compõem a sua discografia, criou uma obra prima do século XXI. O melhor álbum do século XXI da banda e um dos melhores do ano! O peso e a melodia andam de mãos dadas. Vemos a distorção das guitarras e ainda um baixo aliado a um lado mais acústico. Uma bateria soberba e ainda temos um lado mais orquestral espalhado um pouco por todo o álbum e depois os solos, geniais. O único mal que tenho a apontar neste álbum é talvez a duração dos temas. Se fossem um pouco mais curtos, talvez pudéssemos ter espaço para mais um ou outro tema. Mas não é isso que retira a qualidade a este "Senjutsu". Iron Maiden é uma banda composta por três guitarristas e todos eles são importantes para a composição da banda! "Senjutsu" está ao nível de clássicos como "Piece Of Mind", "Seventh Son Of A Seventh Son", "Killers" ou "Iron Maiden". Este álbum, para quem gosta da "New Wave Of British Heavy Metal", é obrigatório em qualquer coleção e para quem não goste de Iron Maiden aconselho vivamente a irem ouvir esta verdadeira pérola dos ingleses!