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Final Veredictum: Spiritbox - Eternal Blue

 


"Eternal Blue" é o tão aguardado álbum de estreia dos Spiritbox, lançado a 17 de Setembro de 2021 pela Rise Records.
A banda canadiana originária de Victoria, British Columbia, que tem estado sob os holofotes da cena Metalcore de uma forma que já não se via há muito tempo é composta pela vocalista Courtney LaPlante, o guitarista Mike Stringer, o baixista Bill Crook, e o baterista Zev Rose, que não aparece nas fotos promocionais da banda, somente porque estamos no meio de uma pandemia e ele reside nos Estados Unidos e os restantes membros no Canadá.
Os Spiritbox têm uma sonoridade crossover que mistura elementos de Metalcore, com Metal progressivo e também contém alguns elementos de música eletrónica, Pop e Nu Metal.
Iwrestledabearonce era a antiga banda de Courtney e Mike e apesar de ter elementos screamo, a banda praticava uma sonoridade muito diferente do que ouvimos em Spiritbox, utilizando muito mais guturais do que vocais limpos.
A palavra Spiritbox denomina um objeto que permite captar a presença de atividade paranormal. Apesar desta denominação interessante, percebi que Courtney prefere não explorar muito este lado do oculto, pois durante uma entrevista relatou já ter lidado com uma experiência paranormal no passado e confessa que é algo que lhe causa calafrios.
EternalBlue é o nome de um vírus desenvolvido pela Agência de Segurança dos Estados Unidos e que permite o acesso a ficheiros confidenciais, ao ouvir falar sobre isto num podcast, Courtney percebeu que este seria o nome do álbum e toda a estética, divulgação e promoção do álbum foi feita utilizando sempre um elemento da cor azul.

"Eternal Blue" começa com "Sun Killer", que tem uma sonoridade dissonante que me faz lembrar um despertador, mas é quando a voz doce de Courtney aliada a uma batida ritmada de bateria em conjunto com a guitarra que vamos sentindo um crescendo que vai culminar no refrão, mas é apenas quando chegamos ao Breakdown que a música atinge o seu auge, pois num instante a voz angelical de Courtney, passa a demoníaca.


"Hurt You" é uma música com alguns elementos de Nu Metal, ouvimos isso na guitarra de Mike Stringer que utiliza riffs bastante característicos da sonoridade que era praticada pelas bandas em voga no início dos anos 2000. 
Talvez por isso não me surpreenda que os Spiritbox tenham andado em digressão com os Limp Bizkit, apesar de eu achar que esta música tem muito mais influência de uns Slipknot em início de carreira.
Quanto à letra a música fala sobre relações disfuncionais em que ambos os parceiros não se apercebem da dor que estão a causar um ao outro ao continuarem juntos.
Aqui é interessante ver a forma como os Spiritbox combinaram os vocais limpos com os guturais, tentando explorar os dois lados da relação, os momentos de felicidade e alegria e os momentos de dor e agonia.


"Yellowjacket" é a música que sucede a "Hurt You" e esta foi sem dúvida a música mais aguardada de todo o álbum, assim que foi revelada a lista de músicas e por um simples motivo, a participação especial de Sam Carter dos Architects.
Ao longo da música ouvimos Courtney com uma voz robótica que depois dá lugar à entrada de Sam Carter, que com a sua voz característica traz aqui uma participação de peso e que nos mostra os dois lados da capacidade vocal de Sam o clean singing aliados aos guturais, à semelhança do que nos foi apresentado pelos Architects no início do ano em "For Those That Wish To Exist".



"The Summit" começa a mostrar mais elementos progressivos e abranda o ritmo em relação às músicas anteriores.
Aqui notam-se mais influências da música Pop na sonoridade dos Spiritbox, mas a emoção que nos é transmitida através da voz angelical de Cortney é transbordante e faz com que sejamos embalados pela sua melodia.
Nesta música vemos os Spiritbox a explorarem novos territórios sem medos e mesmo assim não acabam por cair na tentação de serem algo que não são, apenas assumem uma nova roupagem, que ajuda a trazer uma dinâmica diferente a este "Eternal Blue".
Apenas no fim da música ouvimos um registo mais ríspido por parte da vocalista, acompanhado de um instrumental, também ele mais pesado.
A música termina, tal como começou, com calma e com uma intensidade reduzida.


Após "The Summit", chegamos a "Secret Garden" e novamente a melodia volta a estar no papel principal.
Esta é uma música lindíssima que nos transporta para um local mágico e encantador, "Secret Garden" remete-nos para a inocência da infância e para todo o imaginário que daí advém.
Mas tem um travo amargo, quando percebemos que também se refere à sensação de que não pertencemos a nenhum lugar e que para isso temos de encontrar o nosso cantinho no mundo.
É uma música que mexe comigo e que me faz reviver alguns dos momentos mais marcantes da minha vida, bons e maus, e por me fazer sentir desta forma teve um papel marcante ao longo deste ano de 2021.


"Silk In The Strings" mostra-nos novamente uma Courtney com uma voz demoníaca e é interessante observarmos esta dualidade na sua performance vocal sendo que a mesma pessoa tem duas identidades completamente distintas quando nos referimos ao seu registo vocal.
Esta é uma música que nos agarra pelos colarinhos e não os larga até que a música termine.
É um registo completamente diferente das duas músicas anteriores e o instrumental que a acompanha também nos mostra uma sonoridade completamente diferente.
A guitarra de Mike Stringer derrama riffs carregados de Djent e distorção e berra-nos aos ouvidos e a bateria de Zev Rose apresenta-se devastadora, encerrando assim a primeira parte de "Eternal Blue" em grande.


O que se lhe sucede é só uma das minhas músicas de Metalcore favoritas de sempre, desde a primeira vez que ouvi esta "Holy Roller" que fiquei completamente abismado com o peso e visceralidade que esta música contém. 
É impossível ficarmos indiferentes aos breakdowns desta música e às dinâmicas que aqui são utilizadas e eu não consigo não fazer headbang cada vez que a oiço.
Os low growls e fry screams de Courtney Laplante nesta música atingem um outro nível e é sem dúvida a minha música favorita de Eternal Blue.
Foi o meu primeiro contacto que tive com os Spiritbox e mantém-se o mais intenso até à data.


De notar, que apesar de não aparecer no álbum a banda como fan-service fez ainda uma versão alternativa com o impiedoso Ryo Kinoshita dos Crystal Lake acompanhada de um videoclip em estilo manga e que eu vou disponibilizar aqui também para vocês ouvirem.


Segue-se a música homónima do álbum, "Eternal Blue" e o ritmo volta a abrandar, aqui nota-se que os Spiritbox foram inspirados pelo mar, pois as ondas podem estar revoltas como nos momentos mais pesados deste álbum, como podem trazer uma maior calmaria como em momentos como "Eternal Blue".
Aqui brilham os vocais límpidos de Courtney que mais uma vez trazem-nos uma melodia contagiante, o instrumental apesar deste registo mais calmo, não abrandou em nada e aqui tanto a guitarra como a bateria mantêm-se implacáveis.


"We Live In A Strange World" parece quase um desabafo, aqui o estilo assumido é quase spoken word inicialmente mas depois Courtney parece que nos sussurra ao ouvido mencionando como este mundo é implacável e deita qualquer um abaixo e é impossível não nos revermos no que nos é dito.
Quantos de nós todos os dias não temos de lidar com pressões diárias quer seja nos nossos trabalhos ou pelas normas impostas pela sociedade? É estranho vivermos num mundo onde supostamente temos liberdade e supostamente somos livres de escolher o que queremos para o nosso futuro, mas acabamos por ficar na mão das decisões de outros e somos regidos por imposições que nos são colocadas.


"Halcyon" irrompe com uma estática estranha quando comparada com as restantes músicas, mas nesta música vemos Courtney a mostrar novamente um registo mais melódico.
A sonoridade que nos é transmitida pela guitarra de Mike Stringer é dissonante e mostra bastantes momentos de progressividade, riffs técnicos e acutilantes mostram a técnica e domínio que Stringer tem sob a sua guitarra.
Após um início mais calmo, "Halcyon" irrompe com guturais e breakdowns, o que faz sentido após entendermos a origem do nome da música que remete-nos para um momento no tempo próspero e de tremenda felicidade, mas que pertence ao passado, é um momento que recordamos com grande fervor, mas que jamais poderemos voltar a viver.


"Circle With Me" é outro dos grandes momentos de "Eternal Blue" esta é uma música intensa e com um ritmo contagiante, com imensas dinâmicas e para mim é a melhor composição do álbum em termos de diversidade que aqui nos é apresentada, poderia muito bem ser a melhor música de "Eternal Blue", se não constasse da lista de músicas "Holly Roller" e a última música da qual vos vou falar a seguir.
Mas o bronze é aqui muito bem entregue pois "Circle With Me" é memorável e oferece uma tremenda diversidade que nos faz voltar a ela vezes e vezes sem conta sem nunca se tornar cansativa ou repetitiva.


E heis que chegámos ao fim de Eternal Blue e os Spiritbox encerram o álbum com a música mais bonita deste trabalho.
"Constance" colocou-me em lágrimas logo na primeira vez que a ouvi e isso é raro. 
Como sinónimo de autenticidade prefiro transcrever as emoções sentidas na minha primeira audição e por isso vou colocar aqui as palavras que escrevi quando fiz o meu Track Attack desta música:
"Os Spiritbox foram para mim uma surpreendente descoberta que fiz este ano.
A banda possui uma capacidade estupenda de combinar melodia, agressividade e impacto em todas as suas músicas, aliando tudo isto a um toque teatral sublime.
É como se a cada novo single uma nova história nos estivesse a ser contada.
Sinto que a banda faz música não só para ser ouvida, mas principalmente sentida. 
"Constance" aborda uma doença tão complexa como o alzheimer e retrata o impacto que esta doença tem, tanto no doente como nos familiares que o rodeiam e o quão difícil é ver diante dos nossos olhos as memórias de quem amamos, desvanecer até não sobrar nada.
Com uma sonoridade bastante compassada e totalmente revestida de clean vocals é notável a capacidade e versatilidade da vocalista Courtney Laplante, que tanto atinge guturais cavernosos e surpreendentes, como ouvimos no anterior single "Holy Roller" como consegue tons melodiosos e que nos embalam como é a sua prestação neste single ou em "Blessed Be" um dos singles da banda mas que não integra "Eternal Blue".
A música não tem um mas vários pequenos breakdowns que não quebram o ritmo mas desaceleram-no progressivamente sentindo-se fortemente o baixo e a guitarra que elevam o peso para um patamar superior, mas com a melodia sempre presente."