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Final Veredictum: Slipknot - We Are Not Your Kind


We Are Not Your Kind é o sexto álbum dos Slipknot, uma banda que se tem reinventado vezes sem conta e que tem passado por inúmeras mudanças de membros ao longo dos anos.
Joey Jordison juntou-se aos Sinsaenum e tal como na música People=Shit dos Slipknot, os Sinsaenum também demonstram repulsa pela humanidade, sendo mesmo esse o nome do seu álbum de estreia.
Visto que a familia Knot não podia ficar sem baterista, Jordison foi substituído por Jay Weinberg, um fã de longa data que ao juntar-se aos Slipknot tornou um dos seus sonhos realidade.
Após uma disputa legal contra os Slipknot, o percursionista Chris Fehn foi substituído pelo misterioso e imprevisível Tortilla Man.
Paul Gray faleceu em 2010 e em sua memória foi criado o álbum, Vol.5 The Gray Chapter.
V Man tornou-se o novo baixista dos Slipknot.


Apenas Sid Wilson, Jim Root, Craig Jones, Clown, Mick Thomson e Corey Taylor mantiveram-se da formação original da banda que nos trouxe o seu célebre álbum Self-Titled, editado há 20 anos atrás.
20 anos é muito tempo e durante esse tempo os Slipknot foram conquistando um enorme legado e uma legião de Maggots em todos os pontos do globo.
Self-Titled foi o nascimento dos Slipknot e a sua vinda gloriosa a este mundo, IOWA foi a explosão de emoção e agressividade da banda oriunda da cidade que dá nome ao álbum, Vol. 3 The Subliminal Verses foi uma experiência sonora diferente e arrojada mas que mantém a identidade de Slipknot, All Hope Is Gone foi o desenterrar de demónios passados e um dos momentos mais depressivos da banda e Vol. 5 The Gray Chapter foi o homenagear de uma lenda que pereceu e que fará para sempre parte desta banda, Paul Gray.
We Are Not Your Kind é um novo capítulo que começou a ser desvendado, como já é costume da banda por teasers misteriosos que nos foram despertando a curiosidade para o que aí poderia vir até que saiu o single All Out Life e todos pensámos que faria parte do álbum.
Não faz e depois de ouvirmos este disco percebemos o porquê. Esta critica explicita ao estado actual da indústria musical não faria sentido em We Are Not Your Kind, mas é muito bem-vinda como single:


Insert Coin é o titulo ideal para a intro deste álbum pois os Slipknot quiseram começar o álbum da mesma forma que antigamente se punha uma máquina de jogos de arcade a funcionar, colocando uma moeda. Nesta intro as únicas palavras ditas são "I'm Counting All The Killers" e estas palavras voltarão a ser repetidas mas não já...
Unsainted, a segunda faixa  e um dos destaques deste disco, foi o primeiro single do álbum a ser divulgado e para mim está entre as melhores músicas que os Slipknot já escreveram em toda a sua carreira.
Com um coro angelical sinistro e melódico é a introdução perfeita para uma música tão pesada como esta e digo pesada não só pela parte instrumental, mas também lírica.
Aqui Corey Taylor mostra-se em todas as suas dimensões, temos gritos, o rap metal que faz parte da identidade de Slipknot e cleans que surgem num grande refrão.
Toda a composição desta música parece-me quase uma peça teatral muito bem orquestrada, no inicio temos um crescendo, no meio o desenrolar da acção, antes do fim catarse:

"Did you think you could win? And fill me in?
Did you think you could do it again? I'm not your sin
I was all that you wanted and more, but you didn't want me
I was more than you thought I could be
So I'm setting you free, I'm setting you free
You've killed the saint in me
How dare you martyr me?
You've killed the saint in me"

E por último o climax...

"Oh, I'll never kill myself to save my soul
I was gone, but how was I to know?
I didn't come this far to sink so low
I'm finally holding on to letting go
You've killed the saint in me
How dare you martyr me?
You've killed the saint in me
How dare you martyr me?"



Birth Of The Cruel, a terceira música deste álbum é diferente e aqui começam a notar-se as similaridades com Vol.3 The Subliminal Verses na sonoridade desta música.
Esta música define a identidade dos Slipknot na perfeição através da letra:"We are the bitter, the maladjusted and wise", estamos a falar de uma banda que já passou por inúmeros momentos dolorosos, mas que sempre resistiu a tudo, 9 músicos que nunca se integraram na sociedade e que nunca quiseram fazer parte dela, mas que ao mesmo tempo já trazem 20 anos na bagagem enquanto banda e que têm uma maior noção da realidade crua e dura que os envolve do que quando começaram.
Aqui ouve-se perfeitamente a percussão sendo este um elemento sonoro central nesta música e que se funde com os gritos de raiva de Corey Taylor.
Os Slipknot que aqui temos estão fartos de merdas e dramas e temem pela segurança de quem os irritar...
Esta é a primeira vez que os Slipknot utilizam vídeo vertical num videoclip e além disso na marca de 1 minuto e 38 desta música podemos ouvir código morse, algo que já tinha estado presente em algumas músicas de Vol.3 The Subliminal Verses.

Death Because Of Death é um interlúdio mais longo do que era necessário e repetitivo. Tirando a parte final onde se ouve uma voz feminina, no meu entender não acrescenta nada de interessante ao álbum.
Nero Forte pelo contrário é rápida, pesada e traz alguns elementos do Self-Titled e da agressividade de IOWA à superfície, aqui tal como em Unsainted vemos mais uma vez todas as facetas vocais de Corey Taylor. A percursão nesta música é excelente, as guitarras acompanham com riffs incríveis e rápidos e como um todo é uma música bem conseguida, que nos remete para outros tempos desta banda, mantendo a componente experimental e o tom que os Slipknot nos querem passar com este álbum.
Critical Darling começa com sons dissonantes e elementos industriais. 
Aqui a bateria de Weineberg assina esta música do início ao fim, mas também as programações de Craig Jones estão bem presentes, mais do que em qualquer outra música neste álbum.
Corey oscila entre o Rap Metal e alguns dos melhores cleans que já ouvi quer seja em Slipknot ou Stone Sour. Também o baixo de V Man ajuda a dar uns toques com umas bass lines que são bem vindas e ajudam a alimentar esta música como um todo.
A Liar's Funeral foi para mim a surpresa do álbum, esta é a música onde ouvimos Corey Taylor no seu estado mais vulnerável e onde este expurga todos os demónios que o consomem, fala de momentos negros e de como quando precisou houve quem não estivesse lá para o ajudar daí o ouvirmos a gritar a plenos pulmões repetidamente "LIAR!" 
Nesta música temos cleans no início e depois temos guturais incríveis, onde Corey repete vezes sem conta "Burn The Liar".
Entre guitarras acústicas que introduzem e findam a música, bateria e guitarras que acompanham nos momentos mais pesados esta é provavelmente a música que mais diverge de todas as outras em termos de sonoridade e uma das mais bem conseguidas.

Red Flag podia muito bem estar no IOWA, esta é a música mais rápida do álbum e ao vivo vai ser um dos highlights sem dúvida. Double Pedal, Rap Metal, programações de electrónica tudo isto combinado com uma uma grande velocidade e temos aqui a receita perfeita para alimentar enormes circle pits nos concertos de Slipknot
É completamente o oposto da música anterior, sendo a passagem perfeita de uma música mais melancólica e pessoal para uma das mais agressivas de We Are Not Your Kind.
Red Flag tem também um riff incrível que surge no inicío e que vai sendo repetido ao longo da música.
Mais uma vez em termos de escrita e composição os Slipknot a mostrarem o porquê de serem um dos grandes nomes do Metal actual.
What's Next é mais um interlúdio, mas este ao contrário de Death Because Of Death é bem vindo pois deixa-nos curiosos, tal como o titulo tão bem sugere, pelo que aí vem. Serve para fazer a ligação com Spiders uma música dissonante com vários toques de electrónica e sons mais industriais. Totalmente cantada em cleans e acompanhada principalmente por percussão e pelas programações de Craig Jones que mais uma vez voltam a brilhar.
 Esta é a faixa mais sinistra de We Are Not Your Kind mas que não deixa de ser uma boa adição com uma sonoridade bastante peculiar e diferente de tudo o que já ouvi desta banda ao longo dos anos.
Orphan tem riffs ainda mais pesados do que Red Flag e uma agresividade semelhante, muito graças às percussões, trazendo-nos também ela reminiscências de IOWA.
A letra desta música volta mais uma vez a mostrar-nos a capacidade de escrita desta banda e isso vê-se também na composição das secções instrumentais onde os 9 nos mostram tudo aquilo que valem com uma performance estrondosa.

My Pain é possivelmente a música mais introspectiva de todo o álbum e mostra-nos Corey Taylor conformado com a realidade que o envolve Na letra desta música percebemos que a dor é uma constante na sua vida e que Corey já se conformou com essa presença constante. 
No meu entender apesar de ser Corey a cantar, esta música é na verdade um reflexo de todos os momentos dolorosos e perdas pelas quais a banda já passou.
É quase como que uma "lullaby for pain", com uma calma desconcertante que contrasta com tudo aquilo que está a ser dito:
"Pain, she loves me, wants me to be
Less scared, more free, pain
Pain, she loves me, wants me to be
Less scared, more free to feel our love, pain
I've always felt this way for you"

Not Long For This World é outro dos muitos destaques deste álbum. Quanto à sua letra e tom esta é uma música que nos mostra que se torna difícil aguentar tanta dor e que às tantas Corey já nem sabe como aguentou tanto tempo e este titulo é uma afirmação de que pode já não lhe restar muito mais tempo neste mundo. 
Percebemos que está a chegar o fim do álbum e que estas são as confissões finais de uma banda que já passou por tanto mas que tem resistido a tudo e continua aqui firme e mais unida do que nunca, contra todas as adversidades e contra o que todos pensavam no inicio da sua carreira.
Na reta final desta música Sid Wilson traz-nos também os melhores scratches do álbum inteiro. Em termos instrumentais esta música e A Liar's Funeral são as mais distintas de todo o álbum mas também as que nos ficam mais na memória por essa mesma razão.
Solway Firth é a última música deste álbum, que termina como começou:
Today, up on this hill, I’m counting all the killers
They sway as they swarm, a look of gluttons in their eyes 
They mutter as the body loses warmth
They pick your bones like locks inside a tomb
And take great care to not take care of YOU
HERE’S AN UNEXPLAINABLE ONE

Foi fortemente inspirada por uma fotografia, intitulada "Solway Firth Spacemen", onde inexplicavelmente aparece um homem do espaço por detrás de uma criança. De acordo com o fotógrafo Jim Templeton, o homem não estava lá quando a fotografia foi tirada. 
Esta manipulação foi o que inspirou a letra desta música e serve como alegoria para todas as manipulações que acontecem no quotidiano.
Quanto à música, este é mais um registo pesadíssimo onde vemos Slipknot a abraçar novamente as raízes de IOWA. Riffs alucinantes de Mick Thomson e Jim Root, Scratches de Sid Wilson e sons de programação dissonantes de Craig Jones, todas as facetas vocais de Corey Taylor em toda a sua magnitude, a bateria de Jay Weineberg com uma tremenda intensidade, combinadas com as efusivas percussões de Clown e Tortilla Man e linhas de baixo brilhantes de V Man que ajudam a trazer ambiência a esta faixa que consegue ser simultâneamente pesada e melódica.
Em Solway Firth todos os membros dos Slipknot contribuem para um excelente desfecho de We Are Not Your Kind.
We Are Not Your Kind é o regresso triunfal dos Slipknot.
Não é perfeito mas posso seguramente afirmar que é o seu melhor desde Vol. 3 The Subliminal Verses.
A santíssima trindade de Self-Title, IOWA e Vol. 3 The Subliminal Verses mantêm-se (por esta ordem) imaculada, sendo estes os melhores álbuns de Slipknot mas We Are Not Your Kind é sem dúvida mais um grande registo de uma banda que tanto ao vivo como em estúdio é incapaz de decepcionar.
Eu vi Slipknot este ano no VOA Heavy Rock Festival e para além de ter sido um sonho tornado realidade, posso afirmar que foi o melhor concerto da minha vida e uma experiência que recomendo a todos os fãs de música pesada.
Este é um álbum que recomendo totalmente aos fãs da banda e também a quem não aprecia os trabalhos anteriores de Slipknot.
Existem aqui elementos suficientemente diferentes que podem agradar a quem nunca se quis tornar um Maggot e este é um excelente ponto de entrada para começar a desvendar a discografia desta banda.
Eu quero comprar este CD pois ouvi-o tanta vez para fazer esta review, que para mim nem faz sentido não o ter na minha colecção pessoal e recomendo que quem puder que faça o mesmo, não se vão arrepender.
Podes não gostar de Slipknot, estás no teu direito, mas não te esqueças WE ARE NOT YOUR KIND!