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FINAL VEREDICTUM - FIT FOR AN AUTOPSY - The Sea Of Tragic Beasts


A banda de New Jersey, estes Fit For An Autopsy, trazem-nos aqui um álbum de metal extremo, cheio de uma sonoridade furiosa e sem piedade, que nos chicoteia violentamente e nos deixa prostados, mas de satisfação, pelo poderio a que estivemos sujeitos. Li brevemente algumas considerações da banda, e o que sobressaiu mais foi a afirmação de Will Putney, que diz que tenta sempre sentir-se emocionalmente conectado com a melodia e as letras que escreve. E sim, transparece em todos os temas essa conexão. A banda aborda muito seriamente através do seu "post-hardcore", (eles próprios é que se intitulam assim, dado mesclarem muito o "death metal" com o "hardcore"), temas muito actuais, sobre a consciência social e a abordagem que fazem de problemas emocionais, tais como a agressão, a fúria, a frustração e a tristeza, usando para isso a sua música. Posso dizer-vos o seguinte: este álbum é mesmo de lamber os beiços. Desde o início ao fim, eles abordam as sonoridades do "death", do "groove", do "hardcore", de um aqui e ali emprestado ao "metalcore", não cansando e mantendo a nossa atenção sempre acutilada. Mais uma vez, cabe, naturalmente, a cada um de vós ter uma opinião própria após escuta, vindo eu aqui muito simplesmente falar-vos dos temas que mais me falam dentro de todos e quiçá aguçar-vos a curiosidade em escutar o álbum. Mas preparem-se, porque desta vez tenho dois temas que me tocam muito pessoalmente, e abrirei um pouco o coração para saberem porquê. Além disso faço somente uma menção honrosa a "Your Pain is Mine", aquele minuto final é de bradar aos céus.


"The Sea of Tragic Beasts"
"Remove your wings, rise from the sea
And fall in the fire with me
Fall in the fire with me"
Ah que dizer do começo? Aquele "riff" de guitarra tortuoso que nos agarra logo ali e entra então um "Fall in the fire with me"...como resistir ao chamamento daquele rosnar? E lá fui eu feliz da vida. Completamente merecida toda a minha atenção, com uns "riffs" de guitarra super técnicos, mas deliciosos e com uma fúria no seu cantar, com uma bateria cirurgicamente precisa e com uma batida infernal mais para o final do tema, com ganchos que agarram a atenção, brutos "breakdowns" e aquele coro "remove your wings" e a constante súplica "fall in the fire with me" e eu a murmurar "claro que caio, feliz da vida caio no fogo contigo". Escutem este tema, dado que é absolutamente delicioso de se ouvir. O Joe Badolato neste tema tem um "growl" apelativo, a fazer-nos pensar que convocaram um demónio para cantar com eles e mais ainda que esta sonoridade vocal é adorada por qualquer fã de voz de besta. Assim é ele praticamente o tempo todo. Ele é a estrela deste álbum, muito a par da bateria. Aproveitem para escutar aqui em baixo.
"No Man is Without Fear"
"The hell in your mind is now your reality"
Começa com um solo baixinho de guitarra, sempre em crescendo e depois explode numa fúria vocal e instrumental, aquele berro ainda me ressoa aos ouvidos, carregado de fúria. Aqui as guitarras "guincham" num ritmo de galope, carregadas de um compasso de velocidade que só me faz lembrar um cavalo a galope e, temos também a bateria a acompanhar esse ritmo. Um tema muito carregado liricamente de analogias a quem se encontre no poder. Impressionou pela veracidade da letra e a capacidade que nós temos de nos conectar com a mesma. Mais um daqueles temas que nos morde e fica connosco. Podem espreitar aqui em baixo.
"Mirrors"
"I saw your ghost in my reflection
I saw a darkness in the heart
I saw a shred of hope
I saw the world tear it apart
Our world is cold and empty"
A par do tema "Mourn", que acho que deveriam ler antes deste, é outro dos temas que ressoam imenso comigo. Este tema começa da maneira mais épica que conheço, com um solo de guitarra simples e limpo, logo seguido de umas batidas de bateria que complementam perfeitamente o ambiente lúgubre e "doom like" da sua sonoridade, com um coro que ecoa pelo ar de forma tão celestial e que chega ao âmago da nossa alma, para logo de seguida disparar num ritmo veloz, onde os "riffs" de guitarra são poderosos, vincados e velozes e técnicos à brava. Ainda nos dão muito carinho com uns "breakdowns" inseridos nos momentos certos. Que dizer das vocalizações? De fazer chorar e pedir por mais. Mais para o fim, com aqueles "breakdowns" e aqueles berros desesperados, cada vez mais rápidos no seu desespero, dão ao tema um final estrondoso. "I try and piece together //  The parts of me that I want the world to see // But the mirror stares back, ever black, reminding me // Our world is cold and empty" Para quem como eu lidou toda a vida com a depressão e já lidou com dependência, posso vos dizer que me identifico a 100% com esta letra e essa frase mais que diz tudo o que me acontece quando me olho no espelho. E ao ver o vídeo? É aquilo tudo lá retratado. Está ali basicamente tornado realidade aquilo que nós, eventuais viciados ou deprimidos, vemos e temos percepção. Aproveito para deixar aqui um pedido. Se conhecerem alguém que esteja a passar ou lidar com problemas deste tipo, estiquem-lhe a mão e falem, ajudem, escutem. Podem salvar uma vida. Podem espreitar o vídeo aqui.

"Mourn"
"Will they mourn for me?
A dying memory
Will they mourn for me?
A dying memory"
Este tema ressoou comigo imenso, dado que no momento que estou a escrever esta "review", estou à espera e dentro de uma horas estarei numa mesa de operações, num hospital. Já sabia da operação e quando saiu o álbum, parece que deu voz aos meus medos de ser anestesiada e dei por mim a refletir de como seria se realmente não acordasse mais? "Another hospital, another year of regret // Buried in the pain of my past // Old ghosts of agony // A dying memory" fez todo o sentido. Mais de dois anos em processo de reparações e numa recuperação lenta e agonizante, as dores que me acompanham constantemente e que muitas pessoas nem se apercebem, dada a minha capacidade de não demonstrar muita coisa que se passa comigo. Um tema que começa com um coro épico e parte para um som impiedoso. Assim, este tema tem a carga emotiva toda, a fúria, a frustração, a raiva e agonia que eu tantas vezes sinto. As guitarras falam-me ao ouvido da dor e agonia, a bateria da minha frustração e raiva e as vocalizações são a libertação que tanto desejo, tanto que me encontro a mim naqueles lamentos desesperados que oiço, naquele destilar de palavras que quase as sinto como ditas com um ranger de entre dentes. Para mim dos mais fortes do álbum, porque a mim toca-me pessoalmente. E é isso que qualquer banda ou músico pretende. Que a sua arte nos toque e nos chegue ao coração. Pois, missão cumprida 100%. Podem escutar aqui.

A banda continua a demonstrar a força que tem, inclusive tem ressoado entre imensas bandas grandes e conhecidas, que têm endossado e recomendado em absoluto este álbum. A comunidade do "Core" tem estado 100% com eles. Isto diz tudo de uma banda. Não precisam de se provar a ninguém, mas continuam a provar que se reinventam na forma como estruturam as músicas, as vocalizações e o facto de terem sempre temáticas fortes e de consciência social e que apelam a qualquer um de nós, tornando-os especiais dentro do género, nunca desiludindo, porque não se trata de mostrar se vão evoluir, é mostrarem-nos como vão fazer essa evolução. Aproveito, como gostinho especial, deixar-vos aqui a apresentação ao vivo dos temas, para que vocês vejam este demónio a cantar ao vivo com aquela vocalização brutal e que se mantém fiel à sonorização em estúdio. "Habemus demonicus" :) E é isto que me apela num vocalista. A capacidade de soar basicamente ao mesmo em estúdio e ao vivo. Merecedor de um prémio. (ouçam especialmente a "Mirrors", ao vivo dá daqueles arrepios mesmo)